Viajar de comboio é mais rápido, mas de autocarro paga-se menos

Ainda em tempo de férias, o PÚBLICO comparou os tempos de percurso e os preços da CP e da Rede de Expressos para 21 cidades de Norte a Sul do país.

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CP tem um tarifário labiríntico: o preço de uma viagem é o somatório dos vários troços percorridos Daniel Rocha

De Lisboa e do Porto para 21 cidades do país, os comboios são mais rápidos e os autocarros são mais baratos. Este o resultado de um estudo do PÚBLICO que comparou a oferta dos comboios da CP e dos autocarros da Rede de Expressos tendo em conta as três ligações mais rápidas entre os dois modos de transporte.

Mas há nuances: as viagens de autocarro são quase todas directas enquanto a CP obriga mais vezes os clientes a fazer transbordo. E há muitas cidades que ficaram de fora porque o comboio já lá deixou de apitar.

De Lisboa

O eixo da linha do Norte é o território onde o comboio bate o autocarro. De Lisboa para Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Santarém a Rede de Expressos não consegue competir – a não ser no preço – com os Alfa Pendulares e Intercidades da CP. As maiores diferenças a favor do modo ferroviário registam-se nas ligações a Braga e Aveiro em que a média dos três comboios mais rápidos é 1 hora e 5 minutos inferior à do tempo de percurso dos três autocarros mais rápidos. Segue-se o Porto, em que o comboio ganha ao autocarro por 46 minutos.

Para as Beiras há um quase empate na ligação à Guarda, mas a Rede de Expressos vence a CP na viagem para Castelo Branco e Covilhã. Essa vantagem é ainda maior nas ligações ao Oeste onde os autocarros conseguem ganhar ao comboio para Leiria, Caldas da Rainha e Torres Vedras. Só para Leiria, a Rede de Expressos bate a CP por 1 hora e 11 minutos, sendo também 58 minutos mais rápida para as Caldas da Rainha e 34 minutos para Torres Vedras. E com uma vantagem: é mais barata e tem uma frequência muito maior.

Já para Sul o comboio ganha, mas por pouco. Só para Beja a CP é claramente mais rápida (demora menos 30 minutos que o autocarro, mas tem o desconforto de um transbordo). Para Évora, Faro e Lagos, a diferença é de poucos minutos e para Portimão o autocarro consegue vencer o comboio porque a CP não tem ligações directas para o Barlavento algarvio, obrigando a uma mudança em Tunes.

Quanto aos preços, os autocarros apresentam-se como o modo mais económico para viajar. São mais baratos em 15 dos 21 destinos considerados, sendo que nos restantes cinco destinos favoráveis ao comboio a diferença é de cêntimos.

Porque é que isso acontece? Basicamente porque os Alfas e Intercidades, que constituem o grosso da oferta nas ligações de longo curso, são comboios mais caros. A CP tem preços mais baratos nos regionais, mas estes são mais lentos e não competem com os autocarros.

Por outro lado a CP tem um tarifário labiríntico. O preço de uma viagem é o somatório dos vários troços percorridos, o que encarece o percurso quando se fazem transbordos. Por isso é que, por exemplo, para a Régua o comboio custa uma média de 33,65 euros enquanto o autocarro só custa 19,50 euros (demorando apenas mais 18 minutos do que o comboio).

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A norte de Aveiro é onde a diferença de preço entre a CP e a Rede de Expressos é maior. Para o Centro e Sul essa diferença esbate-se, mas é quase sempre favorável ao modo rodoviário.Quanto aos transbordos, a rodovia consegue ter ligações directas de Lisboa para as 21 cidades em estudo, enquanto o comboio só o consegue para 12.

Para Viana do Castelo, Régua, Leiria, Beja, Portimão e Lagos a mudança de comboio é incontornável. Para Castelo Branco e Tomar, a CP tem também ligações directas, mas curiosamente algumas das ligações mais rápidas implicam um transbordo.

Do Porto

Do Porto para o resto do país confirma-se a tese de que o comboio é especialmente eficaz nas grandes distâncias. Com partida do Porto em direcção ao Alentejo e ao Algarve a diferença face ao modo rodoviário é enorme, sendo o comboio 1 hora e 36 minutos mais rápido do que o autocarro para chegar a Faro e Lagos e superior a uma hora para Beja e Portimão.

É também na linha do Norte que o comboio supera a concorrência, sobretudo para Aveiro, Coimbra, Tomar, Santarém e Lisboa. Já para a Guarda e Covilhã vai-se mais rápido de autocarro desde o Porto, mas para Castelo Branco o comboio vence o autocarro por 7 minutos.

Curiosamente, o mau serviço prestado pela CP na linha do Oeste atenua-se nas relações a Norte. O autocarro é claramente ganhador para Caldas da Rainha e Torres Vedras (apesar da viagem do Porto implicar uma mudança em Lisboa para depois subir no mapa em direcção a norte), mas Leiria está um quarto de hora mais próxima do Porto se se viajar de comboio em vez de autocarro.

Porém, no duelo entre os dois modos de transporte, há um destino em que parece que a viagem é disputada entre um TGV e um velho calhambeque: de Campanhã para Portalegre o comboio bate o autocarro por uma diferença de três horas.

O mais curioso é que esta ligação sobre carris só se realiza aos fins-de-semana enquanto o autocarro é diário. A CP tem este serviço em fase experimental e hesita se deverá mantê-lo visto que a linha do Leste foi encerrada ao serviço de passageiros pelo governo anterior e por ali só passam comboios de mercadorias.

Preços

Já nos preços acontece um fenómeno exactamente oposto ao dos tempos de viagem. É para o Alentejo e Algarve que a Rede de Expressos tem preços que são quase metade dos praticados pela CP. Neste caso, tempo é dinheiro: demora-se mais, gasta-se menos.

Nas 21 cidades consideradas a partir do Porto, o autocarro é sempre mais barato, apenas com a excepção da Régua e só por uma diferença de 40 cêntimos.

Há, contudo, uma grande disparidade dos preços da CP, ao contrário da grande simplicidade do tarifário da Rede de Expressos. Por exemplo, do Porto para Tomar há cinco preços diferentes, que variam dos 16,90 aos 25,75 euros consoante o tipo de comboio, sendo que os mais caros nem sempre correspondem a viagens mais rápidas.

No entanto, nas imediações do Porto é precisamente o facto de só se considerarem os comboios mais rápidos, que encarece o preço. De Campanhã para Braga o Alfa Pendular demora 39 minutos e custa 11,70 euros, mas há urbanos que fazem o mesmo percurso em 49 minutos e custam 3,10 euros.

No site da CP, estar atento a pormenores - nem sempre sublinhados pela empresa - pode significar poupança. Do Porto para Évora a empresa propõe uma viagem de Alfa Pendular até Pinhal Novo onde o passageiro deverá esperar pelo Intercidades vindo de Lisboa. Se o cliente fizer o transbordo na gare do Oriente, o custo da viagem reduz-se de 44,50 para 38,50 euros. Com o mesmo tempo de percurso.

Situação idêntica acontece na viagem Porto-Beja em que o site destaca a viagem por 47,60 euros quando esta pode ser feita por 40 euros exactamente com a mesma hora de saída e de chegada. Já no que diz respeito às viagens directas, a Rede de Expressos e a CP têm mais dificuldade em mantê-las a partir do Porto.

Subir ao comboio ou ao autocarro e só dele sair no destino final está ao alcance de apenas sete destinos da CP e de dez da Rede de Expressos. A CP, porém, surpreende com o número de vezes que, em algumas viagens, é necessário mudar de comboio para chegar ao destino. Para se viajar sobre carris desde Campanhã para Torres Vedras, Beja, Portimão ou Lagos é preciso apanhar nada menos que ...três comboios.

Pior: em muitos casos os tempos de espera nos transbordos penalizam irremediavelmente o tempo global da viagem. Por vezes não era preciso que houvesse um TGV ou uma linha electrificada. Bastava ajustar os horários e as distâncias encolhiam.

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