São João d'Arga "salva" mosteiro do fogo e garante romaria ao santo milagreiro

Noite grande desta popular romaria minhota acontece de domingo para segunda-feira. Com música e festa pela madrugada dentro.

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Festa realiza-se em torno da pequena capela românica do mosteiro de São João D'arga Paulo Ricca/Arquivo

A população da Serra D'Arga, Caminha, acredita que um "milagre" de São João D'Arga salvou o mosteiro do fogo, há duas semanas, e garantiu a romaria secular em sua honra, dias 28 e 29, que atrai milhares de peregrinos. "Foi a população que defendeu o mosteiro dos incêndios que por aqui tivemos. As pessoas acreditam que o mosteiro não foi consumido pelas chamas, que andaram muito perto, por um milagre de São João D'Arga. Já no cimo da Serra ardeu tudo. Está tudo preto. O único verde está em volta do mosteiro", afirmou hoje à Lusa o arcipreste de Caminha, Paulo Dias.

Isolado em plena serra de Arga, o mosteiro data do século XII e, segundo a classificação do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (Igespar), é "um dos mais importantes testemunhos medievais da região, não obstante a sua pequenez e simplicidade".
A capela que integra o mosteiro terá sido construída no século XIII, pertencendo ao "românico tardio", e é "simples e decorativamente despojada".

O mosteiro prepara-se para receber, na noite de domingo para segunda-feira, milhares de peregrinos que sobem a serra para venerar o santo milagreiro, numa romaria secular, considerada das mais típicas em Portugal. "Quem for à romaria e olhar para o cimo da serra vai ver um cenário negro, de silêncio e luto que vai contrastar com a muita vida e alegria que se vai viver junto ao mosteiro, Na romaria, junto ao mosteiro", explicou o pároco.

A 800 metros de altitude, os romeiros pedem todos os anos a São João cura para quistos, verrugas, doenças de pele e infertilidade, ou mesmo uma 'ajudinha' para arranjarem casamento. Outros procuram a festa pelo característico som de mais de uma centena de tocadores de concertina e cantadores ao desafio que se fazem ouvir em animadas rusgas até altas horas da madrugada. Alguns romeiros mantêm ainda viva a tradição de ir a pé até ao mosteiro, num percurso que envolve mais de duas dezenas de quilómetros desde o núcleo urbano mais próximo.

"Os romeiros quando chegam à capela entram e dão a esmola ao santo e depois vão dar ao diabo [representado por um dragão], que figura numa estátua debaixo da pata do cavalo de S. Miguel, para estarem de bem com ele. É uma coisa muito peculiar, que nunca vi em lado nenhum", afirmou Paulo Dias. Padre em seis paróquias daquele concelho do Alto Minho, entre elas, Arga de São João, Arga de Cima e Arga de Baixo, Paulo Dias adiantou que este ano, a romaria "vai viver em pleno as condições criadas as obras de beneficiação do mosteiro e de toda a envolvente, concluídas em 2015", orçadas em mais de meio milhão de euros.

Ouvir concertinas ou simplesmente beber "chiripiti", uma mistura de mel, produzido naquela serra, com aguardente "para espantar o frio", são também motivos que levam milhares à romaria. Os enchidos, e o arroz doce, "que não há igual em mais lado nenhum", ajudam a matar a fome numa noite longa, e "muito importante para a economia da aldeia", onde "residem sobretudo idosos".

A romaria em honra de São João d'Arga começa no dia 28 com a primeira missa às 10h30. Às 16h realiza-se a missa da festa, seguida de sermão e da procissão que dá início aos festejos. No dia 29 realizam-se mais duas eucaristias, às 9h e às 10h30, a procissão, a que se seguem piqueniques realizados na envolvente do mosteiro e animados pelas concertinas e cantadores ao desafio.

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