Souto de Moura em Maputo, a piscar o olho a Joanesburgo

Exposição bilingue no Centro Cultural Português em Setembro mostra mais de 30 projectos.

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FERNANDO VELUDO / NFACTOS

Eduardo Souto de Moura vai estar em Maputo, Moçambique, a 15 de Setembro para inaugurar uma exposição no Centro Cultural Português dedicada à sua arquitectura e comissariada pelo arquitecto e crítico Jorge Figueira. Com textos e catálogo em português e inglês, a exposição do Instituto Camões quer também, nas palavras do comissário, “piscar o olho a Joanesburgo”, fazendo a divulgação da obra do arquitecto português a pensar na África que fala inglês.

A exposição, intitulada Oscilações, agrupa 34 projectos em sete temas - casas, torres, infraestruturas, concursos, instalações, espaços culturais, reabilitações -, construindo uma perspectiva panorâmica da obra do arquitecto que ganhou o Prémio Pritzker em 2011. “Tenta demonstrar o modo como sendo um arquitecto de convicções profundas a sua arquitectura é tomada por crescentes dúvidas”, explica Jorge Figueira, que é também crítico do jornal PÚBLICO. Como escreve o comissário num dos textos, a exposição quis sublinhar “diferenças, discrepâncias, tentativas” numa evolução que não é linear, mas uma “contínua oscilação”, propondo “uma leitura não canónica da obra de Eduardo Souto de Moura”.

O crítico começa por lembrar que o arquitecto do Porto aparece num período de dúvidas e de “crise” da arquitectura no final dos anos 1970. Vemo-lo a apropriar-se do legado modernista de Mies van der Rohe, construindo, primeiro em pequenas obras, uma arquitectura de ponto, linha e plano. Uma “plasticidade refinada” que se solta no Estádio de Braga (2000-2003), um projecto “decisivo e emblemático”, mostrando a sua eficácia numa arquitectura de grande escala “que apela vibrantemente aos sentidos”, depois dos objectos minimalistas das moradias familiares e dos pequenos equipamentos.

Também decisivo foi o Metro do Porto (1997-2005), “onde Souto de Moura soube corporizar a figura do arquitecto enquanto coordenador de uma empreitada complexa”. O comissário vê nesta requalificação urbana que cria uma rede de 60 quilómetros de transporte público uma verdadeira democratização da arquitectura da “Escola do Porto” à escala da cidade. Seguidamente, Figueira escolhe o edifício Burgo (1990-2006), também no Porto, para mostrar Souto Moura a citar a “alta cultura arquitectónica” agora numa torre.

Estas três obras culminaram “um processo de grande persistência e continuidade obsessiva” e Souto de Moura “sentiu-se à vontade para alargar horizontes”, deixando “entrar alguma estranheza”. A Casa do Cinema Manoel de Oliveira (Porto, 1998-2003), as Duas Casas em Ponte de Lima (2001-2002) e a Casa das Histórias Paula Rego (Cascais, 2005-2009) são projectos de crise “onde o insólito” é chamado a perturbar o projecto. Surgem olhos-de-mosca ou chaminés-pirâmides e uma casa desliza pela colina.

“Mas talvez o contributo mais exemplar de Eduardo Souto de Moura seja a aplicação da sua sistemática abordagem aos programas de reabilitação patrimonial que marcaram particularmente o panorama português entre 1990/2010”, continua o comissário, destacando a Pousada de Santa Maria do Bouro (1989-1997). A reabilitação pode ser afinal o momento em que “os edifícios reencontram uma essência algures perdida no tempo”.

Souto de Moura que um dia disse, numa entrevista ao PÚBLICO, que o futuro da arquitectura passaria por África, ainda não tem nenhuma obra contruída em Moçambique, segundo o comissário, referindo no continente o projecto de 2012 das Torres Acácias de Macussulo (Luanda). Está previsto que debata a sua obra com o público e os arquitectos moçambicanos, nomeadamente com José Forjaz, esperando que também se consiga abordar a situação urbana e arquitectónica de Maputo. 

 

Notícia corrigida : o nome do arquitecto é José Forjaz e não Jorge Forjaz 

 

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