A legislatura da redenção do Desporto

Esta é a legislatura e o ciclo olímpico em que Portugal poderia redimir o seu desporto.

Há milhões de anos desde que surgiram os seres vivos estes brincam, jogam e competem lutando pela sua vida e pela sobrevivência da sua espécie. As lutas são escrutinadas, os vencedores lideram o seu grupo, a sua espécie, acasalam e sobrevivem.

Os Jogos Olímpicos são o megaevento onde a humanidade elege os campeões olímpicos imitando a natureza. Os países de todo o mundo são racionais e assumem um sentido vital ao investirem recursos públicos que são avultados na participação desportiva de toda a sua população e na celebração dos seus campeões.

Nenhum povo do mundo olha para os Jogos Olímpicos que não seja para verem os seus campeões nacionais serem os campeões olímpicos que vencem todos os outros e sem chorarem o investimento feito. Está em causa a sustentação geracional da sua nação e do amor-próprio dos cidadãos na sua pertença que não teme competir e vencer entre as melhores. Desde a recriação dos Jogos Olímpicos por Pierre de Coubertin, há mais de 100 anos, Portugal tem dificuldade em conquistar medalhas olímpicas sendo o país de menor sucesso europeu, o que ex-secretários de Estado do desporto reconheceram há muitos anos.

La Fontaine conta a fábula sobre a raposa e as uvas onde a raposa tenta alcançar umas uvas apetitosas e, não conseguindo, desiste dizendo que as uvas estavam verdes. Pode sugerir-se que fugir intelectualmente à competição olímpica é uma esperteza como a da raposa que a política desportiva nacional veicula.

Porém, os problemas da produção nacional de desporto surgem da ideologia de apagamento do Estado, da ausência de ambição nacional, do esmagamento do financiamento público, do fracasso das instituições e das políticas desportivas, da desvalorização das federações e dos clubes, etc. Criar boas políticas desportivas visando o sucesso olímpico dos atletas e das federações nacionais é responder ao querer olímpico da população portuguesa e que nem sempre se tem feito em Portugal.

Esta é a legislatura e o ciclo olímpico em que Portugal poderia redimir o seu desporto. Ao desporto português falta, em primeiro lugar, a liderança para o consenso nacional sobre a sua ambição desportiva. Em segundo lugar, definidos e quantificados os princípios haverá que promover a concretização dessa ambição nacional aplicada ao presente ciclo legislativo e olímpico. O primeiro desafio do consenso nacional da ambição desportiva e olímpica caberá à Presidência da República e o segundo desafio da concretização da ambição no presente ciclo legislativo e olímpico caberá ao XXI Governo.

Nestes dois níveis vários aspectos deveriam ser compreendidos. A criação de uma população ciente da sua ambição desportiva e olímpica faz-se com direitos desportivos bem definidos. Nomeadamente os direitos dos jovens relacionam-se com o seu desabrochar físico e psíquico e a oferta de carreiras que facultem a sua integridade física, psíquica, moral e política, assentes em condições desportivas, económicas e sociais de sustentabilidade ao longo da vida.

No domínio da política económica muito se fala da austeridade, acena-se com a sua agressividade e não se referem as medidas de política desportiva para a combater, como as medidas de eficiência económica que torneariam as condicionantes nacionais que afectam a actividade das federações e dos clubes desportivos. A Conta Satélite do Desporto decidida em 2014 é o exemplo de uma decisão de política desportiva que gerou conhecimento capaz de melhorar a política económica em benefício dos parceiros desportivos.

A análise dos dados da performance olímpica demonstra a carência crónica de qualidade com que Portugal se apresenta nos Jogos Olímpicos há vários ciclos legislativos e olímpicos. A performance dos atletas portugueses no Rio de Janeiro sugere não só a ausência de grandeza e competência da política desportiva nacional como também a falta de suporte público à sua dedicação inquebrantável no investimento pessoal e na excelência desportiva.

O fracasso relativo do desporto português no passado deveu-se às políticas públicas que envolveram os mais altos responsáveis da Nação. Em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Pedro Passos Coelho, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Assunção Cristas têm a responsabilidade nacional de definirem, nas instituições que lideram e participam, o consenso da Visão do desporto nacional no século XXI, assim como, a concepção e a operacionalização dos princípios, metas, programas que as instituições nacionais deverão assumir para a concretizarem. Era bom que não considerassem as vitórias conseguidas pelos atletas e equipas nacionais como almoços grátis e pagassem essas vitórias com melhores políticas desportivas nacionais.

Economista (fjstenreiro@gmail.com)

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