Um recado dos canoístas para os críticos

Fernando Pimenta lamenta falta de cultura desportiva e Emanuel Silva diz que ninguém tem o direito de os criticar.

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Fernando Pimenta e Emanuel Silva reagiram às críticas REUTERS/Marcos Brindicci

A canoagem portuguesa já obteve um quarto e um quinto lugares nos Jogos do Rio de Janeiro e neste sábado estará na final de K4 1000m. Resultados que são muitos bons para alguns e que ficam aquém das expectativas para outros. É o que se lê, vê e ouve nos jornais, rádios, televisões e redes sociais, onde se discute se os portugueses (da canoagem e não só) deviam ter mais medalhas conquistadas.

As críticas não passam despercebidas aos atletas que estão no Rio de Janeiro e nesta sexta-feira ouviram-se dois “gritos” de revolta. Fernando Pimenta, que foi quinto classificado no K1 1000m, diz que lhe dá vontade de rir quando lê alguns comentários. “Às vezes dá-me vontade de chorar, mas é de [chorar a] rir, porque vê-se claramente que as pessoas não têm noção do que é desporto, do que é passar um Inverno completo dentro de um rio, acordar às 7h para fazer treinos de natação, ir para o rio com dois ou três graus de temperatura”, disse o canoísta de Ponte de Lima, citado pela Lusa.

“Nos dias chuvosos em que o pessoal gosta de estar durante o domingo instalado no sofá a ver um bom programa de televisão, um bom filme, nós não podemos: nós estamos dentro de água, a andar de bicicleta, a treinar, nós vamos correr, fazemos natação, fazemos ginásio. Nota-se que as pessoas não sabem os nossos currículos”, argumentou o atleta olímpico, afirmando que desde Novembro esteve 210 dias em estágio. “Abdiquei da família, dos amigos. Eu dou o meu melhor e espero que os portugueses compreendam isso, que não estamos cá para sair derrotados, que não estamos cá para entristecer os portugueses.”

Emanuel Silva, que foi quarto no K2 1000m, ao lado de João Ribeiro, também quis deixar um recado aos portugueses. “Aproveito a oportunidade para fazer um pequeno reparo a todos os portugueses que nos acompanham em Portugal, para não dizerem mal de nós. Ninguém mais do que nós quer os melhores resultados", garantiu o canoísta do Sporting, também citado pela Lusa. “Nós abdicamos das nossas famílias, dos amigos, de festas, de confraternizações, de baptizados, de aniversários, de casamentos, para lutar pelos melhores resultados. Ninguém tem o direito de nos criticar.”

Para Fernando Pimenta, muitas das críticas que tem ouvido devem-se à falta de cultura desportiva em Portugal. “Eu gostava que todas as modalidades não conquistassem diplomas, conquistassem medalhas. Mas, como o Rui Bragança, o João Pereira, entre outros atletas, referiram, enquanto a cultura desportiva em Portugal não melhorar em termos de apoios privados – e não falo só na canoagem, mas em nome de todas as modalidades –, é difícil", destacou o canoísta, acrescentando que muitos dos que criticam a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos "provavelmente nunca viram desporto sem ser o futebol".

Na hora deste grito de revolta, os dois canoístas apenas divergiram num ponto. Para Emanuel Silva, as críticas fazem mal. “Nós somos tão poucos, que devíamos estar mais unidos. Não são assim tantas as medalhas que temos. Quanto mais nos espicaçarem e transmitirem energia negativa, pior. Nós lemos tudo. Gostaríamos de não ler, mas lemos", diz o canoísta do Sporting.

Já para Fernando Pimenta as críticas são uma fonte de motivação. “Isso a mim dá-me ainda mais garra, mais vontade. Continuem, se se sentem felizes, continuem", disse o canoísta de Ponte de Lima, que no final dos Jogos promete escrever nas redes sociais para responder a alguns críticos. “No final dos Jogos, quando me sentar, tranquilo, vou escrever qualquer coisa, mas de uma forma serena, fria. É isso que tenho aprendido com o desporto, controlar muito as emoções, gerir essas emoções e, depois, no momento certo, dar as respostas, mas sempre com muita classe.”

Fernando Pimenta lamentou a falta de recursos para o desporto em Portugal e deu o exemplo de Rui Bragança, campeão europeu de taekwondo, que não sabe se continuará a ser atleta ou se vai dedicar-se ao curso de medicina. “O próprio Rui Bragança já disse que está a equacionar se continua ou não. Em alta competição, tudo conta.”

Neste desabafo aos jornalistas no Rio de Janeiro, Fernando Pimenta deixou ainda uma mensagem aos jovens portugueses. “Sempre que tiverem sonhos de serem atletas olímpicos, de estarem na luta pelo vosso país, devem acreditar, devem trabalhar”, disse o canoísta, avisando que haverá “desafios, obstáculos e barreiras: “Temos de saber dar a volta por cima. O desporto é isso mesmo, é uma das melhores escolas que as pessoas devem ter. Como atleta, só tenho de apelar à prática do desporto.”

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