A história de amor entre o mar e o Homem sobe ao palco em Vila do Conde

Espectáculo de rua terá este ano mais de 400 participantes, o dobro do ano passado. E uma sessão extra na segunda-feira.

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Neste momento já só há bilhetes disponíveis para o espectáculo de segunda-feira DR

Das margens de uma antiga vila portuária para o mundo, a comunidade junta-se novamente para recriar e participar na história e tradição de Vila do Conde, num espectáculo de rua que tem este ano a segunda edição. Depois do sucesso do ano passado, os quatro sessões previstas (desta quinta-feira a domingo, às 22h) esgotaram e a organização viu-se “obrigada” a programar mais uma encenação para a noite de segunda-feira. 

Vila do Conde – Um Porto para o Mundo é um espectáculo que nasce da vontade da autarquia, em parceria com a Companhia Lafontana - Formas Animadas, de divulgar o património e a memória da história local, intimamente ligada ao mar, à construção naval e à pesca. E que convoca os próprios vilacondenses a participar num “elogio” aos antepassados que trabalharam nos estaleiros, aos pescadores, às peixeiras, aos “descobridores” que dali partiram e que levaram a língua portuguesa aos quatro cantos do mundo”. Quem o diz é Marcelo Lafontana, produtor do espectáculo. 

A ancestral vocação marítima dos vilacondenses tem origem ainda na Idade Média quando neste pedaço de terra à beira-mar plantado foram construídas embarcações que partiram na senda dos descobrimentos portugueses, de que é exemplo a réplica de Nau Quinhentista, ancorada junto à Alfândega Régia.

Este ano, mais de 400 artistas, o dobro do ano passado, entre profissionais e amadores, dos 7 aos 80 anos, vão recuar 500 anos até à atribuição do Foral Novo por D. Manuel I, marca da fundação do município de Vila do Conde. A miscigenação provocada pelo contacto com outras culturas, o imaginário popular, os medos, as crenças e as lendas da época, vão ser exploradas neste espectáculo que é “um intercâmbio multigeracional, étnico e multicultural”, afirmou Marcelo Lafontana, da Companhia Lafontana - Formas Animadas.

As raízes brasileiras e espanholas, e uma identidade que se reparte por vários territórios não impedem o produtor de unir uma comunidade de 400 pessoas, “esmagadoramente vilacondense” que, com a ajuda de profissionais, vai contar “essa história de amor antiga entre o mar e o Homem”,  num terreiro, o palco, onde antespontuavam os estaleiros navais da cidade. A memória colectiva dos mais velhos é chamada para recordar os cheiros, o barulho da madeira a ser serrada e encaixada, a dar forma aos barcos que ali ancorados já almejavam viajar. “Aqui na peça temos pescadores a representar pescadores e construtores navais a fazer de si próprios. A arte deixa de reproduzir a vida, as pessoas trazem a sua para o palco”, referiu Marcelo Lafontana.

O espectáculo “não é um remake da edição do ano passado. Em termos musicais, também é todo composto de raiz”, sublinha o encenador Amauri Alves. As quatro centenas de participantes foram integradas na representação, no canto, na dança e até na acrobacia presentes numa peça “que é um espaço onde as pessoas se encontram: um verdadeiro porto, de onde as pessoas chegam e partem”, assinalou. 

O projecto está integrado numa estratégia do município que pretende divulgar e preservar o património material e imaterial da construção naval de madeira que caiu em desuso por força do envelhecimento dos mestres carpinteiros e calafates. A autarquia quer inscrever a arte e o engenho dos que durante séculos ajudaram, via mar, a dar novos mundos ao mundo, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial e no quadro de honra da UNESCO. E, além de proteger este saber ancestral, que está nas mãos dos vilacondenses, espera transmiti-lo às gerações vindouras.

As edições de 2017 e 2018 estão já asseguradas, referiu o produtor do espectáculo, para as quais garantiu existir já financiamento, em parte suportado pelos fundos comunitários do Portugal 2020. 

Para esta segunda edição, a autarquia duplicou a lotação da bancada colocada no cais da Alfândega, de 600 para 1200 lugares, o que significa que já foram vendidos 4800 bilhetes. As entradas, ainda disponíveis para a noite de segunda-feira, custam três euros para adultos e um euro para as crianças e podem ser adquiridas nas instalações dos serviços da autarquia na cidade e na Internet.

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