A opção libertária nas eleições dos EUA

A ideologia libertária centra-se num princípio fundamental: a liberdade individual; assegurada por liberdade de escolha, voluntarismo, defesa da propriedade individual e assente no transversal princípio de não-agressão

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Lucas Jackson/Reuters

A maior parte das pessoas poderá não saber mas existem alternativas a Trump e Clinton nas eleições dos EUA. O Partido Libertário do candidato Gary Johnson (antigo governador do Novo México) tem cativado as maiores atenções como alternativa aos partidos tradicionais, tendo já atingido 13% das intenções de voto. A perspectiva de Trump ou Clinton como próximo presidente tem gerado insatisfação e uma enorme divisão entre os americanos. Este contexto é propício ao sucesso de candidaturas alternativas e, em particular para o movimento libertário, à difusão de ideias alternativas às do establishment político actual.

O Partido Libertário concorre a eleições desde 1972 não tendo nunca conquistado mais do que 1% dos votos. Se chegar aos 15% de intenções de voto nas próximas semanas, poderá participar nos debates televisivos tradicionalmente restritos aos principais partidos. A visibilidade que estes debates trarão poderá ter enorme impacto nos resultados e significar um momento de viragem para um movimento que vem, nos últimos anos, ganhando cada vez mais seguidores pelo mundo fora.

A ideologia libertária centra-se num princípio fundamental: a liberdade individual; assegurada por liberdade de escolha, voluntarismo, defesa da propriedade individual e assente no transversal princípio de não-agressão.

Um libertário acredita que todos os indivíduos devem ter liberdade de fazer as suas escolhas (morais e económicas) sem imposição ou coerção por terceiros ou pelo Estado, e defende que a única limitação à sua liberdade individual é a liberdade do próximo.

Politicamente, a ideologia libertária defende a tolerância social (pela liberdade de escolha e contra a imposição de valores) e a redução da interferência do Estado na actividades económicas, políticas e sociais dos cidadãos. Defendendo, por exemplo, a liberalização do cannabis e os direitos LGBT, e opondo-se à intervenção dos bancos centrais e aos bail-outs públicos. Na política externa o libertarismo opõe-se ao intervencionismo militar e à ingerência na política interna de outros países.

Nos EUA, o libertarismo tenta resgatar os princípios dos “founding fathers” que cada vez mais estão dissolvidos na complexidade do sistema político-legal que parece apenas servir o poder e a influência da actual elite política e económica.

A nível global, o crescimento recente do movimento libertário estará associado à insatisfação com o aumento da intervenção do Estado, a promiscuidade entre o Estado e os negócios, a alta finança e outros lobbies, a crescente desconfiança dos cidadãos no establishment político e à incapacidade deste para dar resposta aos grandes desafios da actualidade, como a globalização, a polarização cultural, política e social, o conflito entre liberdade, privacidade e segurança, e o fraco crescimento económico.

Ao longo dos próximos meses falar-se-á cada vez mais de Gary Johnson e de libertarismo. Acredito que mais pessoas se irão identificar com estes princípios e que surgirão muitos novos libertários que, sem saber, já o eram.

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