Como um carvalho centenário se transformou numa obra de arte

Árvore com 110 anos foi intervencionada pelo artista plástico Isaque Pinheiro.

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O carvalho tinha 110 anos Nelson Garrido
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Nelson Garrido

Se Lavoisier garantia que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, porque não levar à letra a expressão do químico francês e transformar em obra de arte um carvalho “velho e morto”? Foi o que aconteceu no Parque da Devesa, em Vila Nova de Famalicão, com a transformação de uma árvore, abatida por questões de segurança, numa intervenção do artista plástico Isaque Pinheiro. 

O velho carvalho-alvarinho tinha morrido há mais de dois anos e as sucessivas quedas dos seus ramos punham em causa a segurança dos utentes daquela zona verde na cidade. Ao longo de dois meses, a árvore foi podada e descascada até o escultor começar a dar uma nova vida às velhas madeiras. 

A ideia do corte foi justamente o ponto de partida para a elaboração da peça. E porque nestas coisas a “simplicidade ganha”, Isaque quis apenas "Rebater uma árvore". Assim baptizou a nova árvore que foi dividida em duas partes, agora ligadas por uma dobradiça, como se pudesse ser posta de pé outra vez, do alto dos seus 30 metros de altura e das suas 7 toneladas. 

A curiosidade dos populares aproximava-os de Isaque e do seu atelier que ali improvisou e onde andou às voltas com as madeiras. Poderia o velho carvalho ser de novo erguido? 

“Cada vez mais temos de dar importância ao acto de cortar uma árvore, mesmo que seja para fazer móveis ou para fazer uma escultura. Foi assim que eu abordei o conceito da obra”, explicou ontem o artista na apresentação do resultado final da intervenção. O facto é que o carvalho não pode ser reerguido, mas é agora um atracção para todos os que se passeiam pelo parque e se sentam nos seus ramos ou aproveitam para tirar fotografias.  

“Uma árvore não é só uma árvore. Uma árvore pode ser um calendário, um relógio, dar ‘milhentas’ informações. Conseguimos ver os 110 anos da árvore pelos seus anéis e perceber se os Invernos foram muito rigorosos”, destacou o escultor. Foi isso que a autarquia considerou ao decidir não retirar a árvore (nem a sua história) da paisagem daquele parque e de “construir o presente sobre o passado”.

“Achamos que a memória e a identidade deste espaço deviam ser preservadas. A árvore estava muito associada à história do parque. É mais uma oportunidade de arte pública, em contacto com as pessoas, em que as pessoas podem tocar a arte”, frisou o presidente da câmara de Famalicão, Paulo Cunha. 

Com o passar do tempo, a madeira do carvalho vai exigir manutenção para assegurar que nenhum dos seus ramos seja um perigo para os que ali passam. Mas há sempre a opção de “repensar” novamente a peça, destacou o escultor que já expôs em cidades como Barcelona, Oslo, Rio de Janeiro ou São Paulo. 

O custo da obra rondou os 6 mil euros, suportados pela autarquia. Um valor “muito barato” quando comparado com outros simpósios de escultura ao nível da arte pública em que já participou, considerou Isaque Pinheiro. 

Texto editado por Ana Fernandes

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