Marcelo ruma ao Brasil para a abertura dos Jogos sem levar políticos e empresários

A visita do Presidente da República de seis dias não tem previstas reuniões políticas bilaterais com governantes brasileiros. Marcelo estará com a delegação portuguesa que participa nos Jogos Olímpicos. E volta ao Brasil em Novembro.

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Marcelo recebeu os atletas olímpicos em Belém Nuno Ferreira Santos

Depois de se ter associado à festa da equipa portuguesa que se sagrou campeã europeia de futebol, o Presidente da República prepara-se para fazer da abertura dos Jogos Olímpicos – e para um encontro com a delegação portuguesa – o ponto alto de uma viagem de seis dias ao Brasil. A visita de Marcelo Rebelo de Sousa é oficial, mas sem cariz político ou económico. Ao que o PÚBLICO apurou a vertente política ficará para Novembro, quando participar na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), naquele território.

Na viagem que começa nesta terça-feira, o Presidente da República vai assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos – daqui a dois dias – onde se poderá cruzar com governantes brasileiros. Mas o âmbito político ficará por aí, segundo fonte oficial da Presidência. Não há encontros bilaterais previstos, a não ser eventualmente com outros representantes dos PALOP. Está marcado um encontro com o Governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, que se realiza por cortesia, já que é no palácio deste responsável que haverá uma recepção à comunidade portuguesa residente naquela cidade.

Marcelo estará também com as comunidades portuguesas de São Paulo e do Recife, numa linha de “proximidade” com os portugueses que vivem naquele país. A pretexto dos jogos, o Presidente aproveitará para matar saudades do filho mais velho, Nuno, que participará num almoço com empresários. Nuno Rebelo de Sousa preside às Federações das Câmaras Portuguesas de Comércio do Brasil. Esse é um ponto de agenda oficial, mas poderá ter uma parte privada que não foi divulgada.

O Presidente da República não irá acompanhado por empresários nem por políticos portugueses e viajará com uma comitiva reduzida ao indispensável. Mas a viagem tem um cariz cultural e prevê a condecoração do provedor de um hospital português.

O ponto alto da estadia presidencial será a entrega da bandeira da República Portuguesa ao velejador João Rodrigues, porta-estandarte de Portugal nos Jogos Olímpicos. Essa entrega realiza-se na quarta-feira, durante uma visita do Presidente da República ao navio escola Sagres, que se transformou na “Casa de Portugal” no Rio de Janeiro, apoiando o Comité Olímpico Português e os atletas que participam nos jogos.

Um dia depois dessa iniciativa, na véspera da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, no mesmo navio, Marcelo Rebelo de Sousa ainda estará com os 92 atletas que compõem a delegação portuguesa. 

No segundo dia da viagem, o Presidente visita a exposição Leopoldina, Princesa da Independência das Artes e das Ciências, no Museu de Arte do Rio. Ainda antes de assistir ao jogo Portugal-Argentina, no âmbito dos Jogos Olímpicos, Marcelo Rebelo de Sousa vai conhecer um novo espaço cultural – o Museu do Amanhã – que se dedica a explorar as possibilidades de construção do futuro.

Depois de assistir à abertura dos Jogos Olímpicos, Marcelo Rebelo de Sousa desloca-se a São Paulo, onde estará numa recepção à comunidade portuguesa oferecida pela Câmara de Comércio de São Paulo e inaugura uma exposição sobre Amália Rodrigues no Consulado-Geral de Portugal.

O último dia da deslocação ao Brasil – segunda-feira – está reservado para a cidade do Recife onde o Presidente visita o Real Hospital Português de Beneficiência e condecora o seu provedor Alberto Ferreira da Costa, com as insígnias de grande-oficial de mérito. Um encontro com a comunidade portuguesa e luso-descendente em Pernambuco é o último ponto da agenda antes de regressar a Lisboa. 

Destino familiar

Facto curios é que o Brasil é destino da família Rebelo de Sousa há várias gerações. O primeiro a emigrar foi António Joaquim, pai de Baltazar e avô de Marcelo. Estava no início da adolescência, com apenas 13 anos, quando embarcou, em pleno rio Douro, a 2 de Junho de 1873, rumo ao Rio de Janeiro.

No Brasil, António viria a receber, em 1875, um livro que se transformou em bíblia familiar e que foi passando de geração em geração até hoje: Conselho de um pai extremoso a seus filhos queridos. A obra era dedicada pelo patriarca Manuel Joaquim Rebelo de Sousa (avô de Baltazar e bisavô de Marcelo) “aos filhos feitos por um pae rústico e criado no meio do campo” e foi impressa na tipografia Lusitana do Porto, à Rua das Flores.

Passados 101 anos, a 30 de Junho de 1974, coube ao casal Maria das Neves e Baltazar Rebelo de Sousa emigrar com destino ao Brasil. No rescaldo do 25 de Abril, como governante deposto do Estado Novo, Baltazar marca viagem num voo da Varig e segue para São Paulo, com a mulher.

Viaja com 20 contos (o permitido) no bolso. Fica dois meses em casa de um amigo, até encontrar poiso no centro antigo de São Paulo. Inicialmente, Baltazar começa a dar palestras e conferências até ser convidado por um transmontano que havia sido seu colega na Mocidade Portuguesa para administrador de uma empresa de pneus. Esse passa a ser o seu emprego diurno. À noite, duas vezes por semana, faz 180 quilómetros para desempenhar o cargo de regente de Medicina Legal na Universidade de Direito do Pinhal. No Brasil, mantém a proximidade com Marcello Caetano, entretanto "exilado" no Rio de Janeiro.

Três anos depois, em 1977,  já casado, é Pedro Rebelo de Sousa, irmão de Marcelo, quem emigra para o Brasil. Em São Paulo, perto dos pais, ganha fama como advogado antes de se instalar em Nova Iorque, onde chegou a vice-presidente do Citibank. Mas Pedro não foi o último da família a instalar-se em terras brasileiras. Por lá está hoje Nuno, filho de Marcelo, e o seu núcleo familiar, que inclui a mulher e os cinco filhos.

O filho mais velho do Presidente da República lidera as relações institucionais da EDP Brasil, mas faz parte da elite empresarial brasileira. Já em 2016, foi eleito para a presidência da Federação das Câmaras de Comércio Portuguesas no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Baía, Ceará e Pernambuco) até junho de 2018. O cargo não é remunerado.

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