Quintinices

As quintinices são alegorias maldosas e banais sobre o cigano, o pobre, a mulher, o gay, o muçulmano, o cristão, o judeu, o comunista...

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Uma quintinice é uma homenagem da raiva à ignorância e acontece quando a ira se alimenta do que parece — mas não é —a realidade dos factos. Donald Trump, por exemplo, é um exímio criador de quintinices. Na verdade, a quintinice vive do jubilo de responder ao que se julga ser a expectativa do homem comum em tempos sombrios: o medo do futuro, a insegurança e o desespero, entroncando na ancestral desconfiança face ao outro. O autor das quintinices quer ser popular e adorado pelas massas.

As quintinices são alegorias maldosas e banais sobre o cigano, o pobre, a mulher, o gay, o muçulmano, o cristão, o judeu, o comunista...

Quando é preciso transformar o medo interior em medo social, colectivo e partilhado, emergem as quintinices, bebendo nas fontes mais antigas, ainda que envenenadas, da estória que contamos a nós mesmos sobre a nossa identidade. Uma estória em que o cigano, magnífica abstracção que economiza toda a diversidade do mundo, é ladrão por vocação, malandro por gosto e destemperado por natureza. "Se não comes a papa toda, vem um cigano e leva-te"; " se não te portas bem, vendo-te ao cigano".

Hitler, outro vocacionado para as quintinices, resolveu a questão matando judeus e ciganos em campos de concentração.

Não, a ignorância não é mesmo nada fixe. Mesmo que se tenha um batráquio em vez de cérebro.

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