Vandalismo na National Gallery reacende preocupação sobre a segurança das obras à sua guarda

Arranhões em duas pinturas italianas do século XVI ressuscitam debate sobre as consequências da redução de funcionários do museu.

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Protestos contra a privatização em frente à National Gallery, em Londres Peter Nicholls/REUTERS

As obras Saints Sebastian, Roch and Demetrius e Canon Ludovico di Terzi, pintadas nas décadas de 1520 e 1560 por Ortolano e Giovanni Battista Moroni, respectivamente, e expostas na National Gallery, em Londres, sofreram danos que parecem ter sido causados por unhas ou anéis. As marcas vêm reacender a discussão em torno da política de redução de custos que concessionou a segurança do museu à empresa privada Securitas.

Michael Daley, director do ArtWatch UK e crítico recorrente da política de conservação da National Gallery, ficou alarmado com os danos e refere que o acontecimento demonstra a importância de ter seguranças em todas as salas. “Uma pintura com 400 ou 500 anos é muito frágil. Com o aumento constante das multidões, o sistema actual é um convite a incidentes e prejuízos.”

Em resposta às acusações, uma porta-voz da National Gallery desvalorizou o incidente e caracterizou os danos como “arranhões menores” que foram rapidamente reparados. “As duas obras foram vistas pela equipa antes da abertura da galeria na manhã seguinte e os arranhões no verniz foram reduzidos sem ter de tirar as pinturas da parede.”

Mas não é de agora a batalha sobre a eficácia da vigilância neste museu que recebe mais de seis milhões de visitantes por ano. Em 2011 surgiram os primeiros avisos alertando para o aumento do risco de vandalismo e roubo, depois de Nicholas Penny, então director da galeria, ter reduzido o número de funcionários, encarregando-os de guardar cada um duas salas em vez de apenas uma. Na altura, vários especialistas de arte temeram que a vulnerabilidade da colecção aumentasse, uma vez que a decisão foi tomada imediatamente após duas pinturas de Nicholas Poussin terem sido vandalizadas com spray de tinta vermelha. 

A galeria respondeu que a mudança tinha sido feita com vista a aumentar a eficiência do museu e não para reduzir custos. Entretanto, em Julho do ano passado, a segurança da National Gallery foi entregue à empresa privada Securitas. Cerca de 300 funcionários que guardavam as obras expostas e respondiam às dúvidas dos visitantes passaram a ser funcionários da Securitas e saíram dos quadros da National Gallery.

Meses depois, em Outubro, alguns funcionários afectos ao Public and Commercial Services (PCS), o sindicato que representa os trabalhadores do museu, voltaram ao trabalho depois de mais de 100 dias de greve, em protesto contra a subcontratação. Reiteraram então a sua oposição à privatização, mas foi alcançado um acordo com uma série de condições, sendo uma delas a readmissão de um representante do PCS que tinha sido demitido anteriormente.

Numa entrevista ao jornal britânico The Guardian em Abril, o novo director, Gabriele Finaldi, afirmou que esse "período turbulento" já fora "ultrapassado”, acrescentando que “as subcontratações começaram em Novembro e está tudo a correr bem".

Mas a informação é contrariada por uma representante do PCS ao The Observer: “Essa não tem sido a experiência dos funcionários da galeria. Os compromissos de pagar o salário mínimo e de assegurar condições contratuais equiparadas aos novos contratados ainda estão por concretizar. Isto foi o que desencadeou a discussão no ano passado. A paciência está-se a esgotar.”

Um funcionário do museu alega, em declarações ao The Guardian, que a Securitas terá desguarnecido a vigilância na expectativa de poder renegociar o contrato com a galeria em condições mais lucrativas para a empresa. Outro exemplifica que não é raro ver a equipa da Securitas a dizer aos visitantes que podem encontrar a Mona Lisa – que se encontra no Louvre, em Paris – na ala Sainsbury da galeria. “Não admira que as pinturas fiquem danificadas.”

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