Estaleiros Navais de Peniche procuram sobreviver ao naufrágio de Angola

Empresa foi comprada há dois anos pela AMAL e pela Oxycapital e está agora em processo especial de revitalização com dívidas que rondam os 18 milhões de euros.

Foto
O estaleiro deverá permanecer apenas com 30 trabalhadores no quadro Enric Vives-Rubio

Os Estaleiros Navais de Peniche já terão chegado a um acordo com os credores para evitar a insolvência, na sequência de um Processo Especial de Revitalização (PER) que deu entrada no tribunal em Março.

Fonte da administração disse ao PÚBLICO que os estaleiros são viáveis, devendo recentrar a sua actividade na construção e reparação de embarcações em fibra até 30 metros, havendo encomendas já assinadas para barcos de pesca para Angola e outras negociadas para outros países africanos. Para isto, o Estaleiros Navais de Peniche precisam de financiamento e de linhas de crédito, o que só será possível após a negociação com os credores. A mesma fonte disse ainda que estava a contar com a entrada de um novo accionista.

A situação dramática da empresa contrasta com a euforia vivida há um ano e meio quando, em Novembro de 2014, o grupo AMAL – Construções Metálicas, SA e o fundo de capital de risco gerido pela OxyCapital compraram os Estaleiros Navais de Peniche por um euro, assumindo o seu passivo (à data, de 14 milhões) e anunciando um investimento de 15 milhões de euros em cinco anos que iria criar cerca de 300 postos de trabalho.

O objectivo era aproveitar o alvará dos estaleiros e acrescentar à construção e reparação naval aquilo que é a actividade principal da AMAL: a construção de plataformas para exploração de petróleo e de gás.

A descida dos preços do petróleo e a queda do mercado angolano trocou as voltas a estas expectativas. As encomendas não se concretizaram e a própria accionista AMAL (que detém 45% do capital) está também em processo especial de revitalização. Hoje, em vez dos 110 trabalhadores de 2013 e dos 60 trabalhadores de 2014, os estaleiros têm pouco mais de 30.

Aquando da compra dos estaleiros, a Oxy adquiriu a dívida bancária da empresa, no valor de nove milhões de euros, e a AMAL ficou responsável pelas dívidas ao Estado (1,5 milhões), aos trabalhadores (800 mil euros) e aos fornecedores (dois milhões de euros). Actualmente, porém, o passivo soma 18 milhões de euros.

Segundo o PÚBLICO apurou, o plano de reestruturação prevê que a empresa fique com apenas 30 trabalhadores no quadro, que serão os que estão ligados à engenharia, fibra e área administrativa, devendo recorrer a serviços externos de acordo com as encomendas a satisfazer.

Além do mercado africano, é convicção da administração que haverá também procura em Portugal para a construção de ferries, lanchas, barcos-patrulha e de pesca até 30 metros. Não despicienda é a colaboração dos estaleiros no projecto Wave Roller, que consiste em construir módulos destinados a plataformas submergíveis para aproveitar a energia das correntes marítimas. Depois de um primeiro módulo que está a funcionar numa praia de Peniche, já há um financiamento de dez milhões de euros para uma segunda estrutura.

Sugerir correcção
Comentar