Malta, palpitações eróticas e noturnas é com os SUUNS, ok?

Quando há um ano fui convidado pelo P3 para, a partir de algumas bandas presentes num festival, efetuar uma Curadoria de Videoclipes, ou seja, escrever e mostrar qualidade visual aliada à musical (sublinho, qualidade visual), da dezena apresentada dois registaram um invulgar (ou não!) interesse dos leitores devido à erótica camada superficial das imagens. Assim, recebido semelhante convite em relação ao Vodafone Paredes de Coura deste ano, era inevitável pensar naquela qualidade que os estimados leitores do P3 mais apreciam. E se este ano há banda que imediatamente despertaria esses interesses marotinhos seriam os Cigarettes After Sex. Não pelo nome, obviamente, porque um não fumador como eu não entende dessas brocas “a posteriori”, mas pela música de um delicado “ambient pop” que derrama vagarosamente volúpias estendidas por uma sensual voz feminina (sim, eu sei... e quem for ao festival também ficará a saber). Só que esta banda, que meio mundo fala dela e corre o outro em concertos, apenas tem seis temas editados. Repito, seis: quatro no “I.” de 2012 e dois no “Affection” de 2015. Pese embora o bom gosto de terem fotos de Man Ray como imagem de marca, quanto a videoclipes, nada ainda. Portanto, esqueçam.

Eis quando passo os olhos pelo resto do bando e vejo que os SUUNS estão no cartaz. Malta, esta banda canadiana é aquela que há quatro anos, numa formação que ministrei sobre videoclipes, apontei um dos seus primeiros como o exemplo perfeito de como, com apenas “tuta e meia” (se tanto!), se pode fazer um vídeo de estúdio impressionante. Ei, vocês não estão bem a ver! De facto, o que se vê em “Pie IX” é pouco, mas a palpitação é muita. Era um tema do primeiro álbum de 2010, o “Zereos QC”, e marcava na perfeição o ambiente da música: noturna, tensa, austera, mas pulsante, lasciva, de desejos impetuosos em surdina. No resto do álbum pontuavam guitarras em chispa, espalhava-se eletrónica humedecida e engordurava-se a batida. Ui, a coisa bate bem! Sem decalcar, os tipos até batem à escondida de Joy Division, ou dumas Savages contidas, e ainda se vê pingos de Colder em todo o lado. Na voz, uma raiva cerrada sem explodir, que confere um todo inebriado, mas controlado. Entre o kraut-rock e o pós-punk, os ambientes cinematográficos alternativos e a sintética chuva viscosa, continuaram com os álbuns “Images du Futur” em 2013, e “Hold/Still” já este ano, do qual surge o videoclipe que aqui se destaca: “Paralyzer”. Que é quase a sequela colorida do acima referido. A intercalar o cenário futurista e ameaçador (porque os desejos expressos na letra assim são), umas imagens digitais referentes à App de Realidade Virtual interativa e parte da trilogia de vídeos criada para promover o lançamento do álbum. São conceitos da própria banda que por vezes convidam criadores a materializar as ideias, como é o caso de Charles-André Coderre na realização deste videoclipe.

Bem, já sabem, à noitinha há SUUNS. Cujo termo não se refere à estrela, mas a coisas da boca. E se ainda fazem contas para poder ir molhar o vosso corpinho no Taboão este ano, saibam que eles vão atuar no mesmo dia e depois dos LCD Soundsystem (18 de Agosto). Quero dizer, antes de se deitarem. Vá, pensem nisso e comprem os bilhetes já, ok?

 

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.