Militantes descontentes do PSD-Porto lançam movimento a pensar nas autárquicas

Denominado Porto Mais, o movimento será apresentado em Setembro e vai abrir-se aos cidadãos que não são militantes sociais-democratas.

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Há queixas de falta de dinâmica à volta da concelhia e distrital do PSD Nelson Garrido

Está na forja a criação de um movimento denominado Porto Mais, constituído por militantes do PSD que consideram que está na altura de o partido fazer uma “reflexão séria e profunda sobre o que quer para a cidade”. A um ano das eleições locais, são muitas as críticas que se ouvem relativamente “à estratégia ou falta dela, que tem sido seguida pelo líder da concelhia, Miguel Seabra. Os militantes sentem-se excluídos do debate do partido e querem criar um fórum onde possam ter voz activa e expressar as suas opiniões.

O movimento deverá ser lançado em Setembro e a ideia é fazer dele um espaço de discussão onde os militantes participem e discutam os temas que consideram importantes para a cidade. “Existe um conjunto de militantes que tenta falar para dentro do partido, ter um discurso crítico, mas não conseguem, porque o partido tem uma agenda que não discute connosco e, por isso, está a surgir um movimento que abarca não apenas militantes, mas também pessoas da sociedade civil”, declarou ao PÚBLICO o cientista Luís Seco.

“Os militantes sociais-democratas querem um partido diferente, querem um partido onde haja espaço para a militância, que esteja aberto a mais debate e que tenha uma ligação com a cidade”, diz, por seu lado, Hugo Dias, membro da comissão política concelhia. Este militante demitiu-se há uma semana do Conselho Estratégico do PSD-Porto, coordenado por Álvaro Almeida, mas não foi o único.

Luís Seco, doutorado em Geoinformática e investigador no Centro de Investigação em Ciências Geoespaciais da Universidade do Porto, também pediu a demissão daquele órgão. E a “gota de água” foi a posição assumida pela concelhia do partido relativamente ao convite que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, fez ao vereador Ricardo Valente, eleito nas listas do PSD, para tutelar o pelouro do Desenvolvimento Económico e Social, que estava sob alçada do autarca independente que preside à cidade.

"Considero inaceitável que uma comissão política concelhia, da qual faço parte por via deste conselho, se dirija aos portuenses através de uma linguagem com a qual não me identifico e sem a elevação que procuro ter na minha vida pessoal, profissional e politica", escreve Luís Seco num texto publicado no blogue Insónias. "Não tenho que concordar com todos os comunicados" da concelhia, "mas as últimas notícias que têm vindo a público extravasaram todos os limites", insurge-se.

Ao PÚBLICO, Luís Seco garante que o movimento que está a emergir congrega ”muita gente descontente com o partido” e confessa que há muito que anda “desiludido com o PSD”. “Temos assistido a uma descredibilização dos partidos e os partidos existem para servir as pessoas, mas isso não tem acontecido”, aponta. “O aparelho partidário está caduco e não há uma vontade das elites de responder a isso, e eu sinto esse desalento há muito tempo”, acrescenta.

"Fraquíssima" participação na eleição para a distrital

O ex-membro do Conselho Estratégico (CE) não resiste a falar da “fraquíssima” participação registada nas eleições de sábado para a distrital do Porto do PSD, a maior do partido, e afirma, a este propósito, que há um distanciamento cada vez maior entre o partido e os militantes. Coisa diferente, sublinha, “é o que está a acontecer com o movimento Porto Mais, que tem o objectivo de fazer política pela positiva e onde há uma onda a crescer”.

No plano das autárquicas, Luis Seco critica a “falta de estratégia” da concelhia do Porto e declara que “nesta altura o PSD já devia ter um candidato definido”. De resto, aproveita para censurar a equipa de Miguel Seabra por se “centrar demasiado na crítica ao PS, em vez de estar preocupada em apresentar ideias para o Porto, não participando na agenda política" da cidade.

Mas há uma terceira demissão no CE. O académico José Bento da Silva diz, numa nota dirigida a Álvaro Almeida, que não pode “continuar a fazer parte do Conselho Estratégico dado o teor das declarações feitas a respeito do vereador Ricardo Valente”, a quem o líder da concelhia acusou de “deslealdade”.

A ex-presidente da Junta de Lordelo do Ouro, Gabriela Queiroz, já se pronunciou sobre as demissões no CE e na sua página pessoal no Facebook, saiu em defesa de Hugo Dias e escreveu que “é mais do que o tempo de reflexões sérias, profundas e alargadas no PSD da cidade do Porto”. Quanto a Hugo Dias, diz que “é um contributo corajoso de um amigo que não há muito tempo se filiou no PSD sem pedir nada em troca, que pensa pela sua cabeça e que tem um percurso de vida construído (e bem) muito longe da política”.

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