Estado Islâmico mata mais de 80 pessoas durante manifestação em Cabul

Ataque foi levado a cabo por bombistas suicidas durante uma manifestação da minoria xiita hazara na capital do país.

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A área da manifestação tinha sido vedada pela polícia AFP/WAKIL KOHSAR

Um ataque suicida durante uma manifestação contra o trajecto escolhido para a construção de uma nova linha de abastecimento eléctrico, este sábado em Cabul, fez pelo menos 80 mortos e mais de 240 feridos. O ataque, que foi reivindicado pelo Estado islâmico, teve como alvo a minoria xiita hazara do Afeganistão, uma população de origem centro-asiática e mongol, que vive no centro do país.

Havia milhares de manifestantes concentrados na praça Deh Mazang da capital afegã, num protesto contra o projectado trajecto de uma linha de alta tensão, quando se deu a explosão. “Dois combatentes do Estado Islâmico detonaram cintos armadilhados com explosivos numa manifestação de xiitas na cidade de Cabul, Afeganistão”, informava um breve comunicado publicado pela agência noticiosa Amaq, ligada ao grupo jihadista sunita.

Segundo as autoridades, o ataque envolveu três atacantes: um bombista suicida conseguiu fazer-se explodir, mas um segundo não; enquanto um terceiro indivíduo, que não é claro se também estaria armadilhado, foi morto pelas forças de segurança no local. Uma fonte dos serviços secretos do país, citada pela BBC, disse que um comandante islamista, Abo Ali, tinha enviado três combatentes da localidade de Achen, na província oriental de Nangarhar, para Cabul.

No Afeganistão, o Estado Islâmico está confinado à província Nangarhar: o facto de o grupo ter conseguido levar a cabo um ataque tão violento na capital pode indicar uma preocupante expansão da ameaça jihadista para outras zonas do país. Além disso, a referência explícita ao ramo xiita do islão como o alvo do ataque, representa uma novidade em termos da luta sectária: a violência entre sunitas e xiitas que divide o Iraque tem estado ausente do conflito afegão.

A minoria hazara, que compõe quase 10% da população do Afeganistão, tem um longo historial de queixas de discriminação e perseguição do regime taliban. A manifestação de Cabul foi convocada para dar conta de uma nova reclamação: a comunidade exige que o traçado da nova infra-estrutura seja revisto para passar também pelas “suas” províncias de Bamyan e Wardak, uma opção que o Governo diz que acrescentaria custos significativos ao projecto e atrasaria em vários anos a conclusão da obra.

Na sequência do ataque, o porta-voz dos taliban afegãos, Zabihullah Mujahid, fez questão de dizer que os seus militantes “nunca estariam envolvidos em nenhum incidente que procurasse a divisão da população”, repudiando a acção dos jihadistas, considerados inimigos pelos taliban. Os dois grupos extremistas têm estado envolvidos num duelo por território no Afeganistão desde 2015, com os islamistas a tentarem recrutar combatentes e até comandantes taliban para as suas fileiras.

A área consagrada à manifestação da comunidade hazara em Cabul tinha sido vedada e aqueles que se dirigiram ao protesto passaram por apertadas medidas de segurança. O Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, lembrou que “o protesto pacífico é um direito fundamental” e lamentou que “terroristas oportunistas se tenham infiltrado na manifestação para levar a cabo um ataque que matou e feriu centenas de pessoas, incluindo forças de segurança”. O Presidente decretou domingo dia de luto nacional, e prometeu “vingança” contra os culpados pelo ataque.

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