A Argentina hoje

A mudança em curso almeja uma Argentina aberta ao comércio exterior, activa nos fóruns multilaterais e em diálogo permanente com os seus pares.

Seis meses depois da tomada de posse de Mauricio Macri como Presidente da República Argentina, após o término de umas eleições que a comunidade internacional acompanhou com particular interesse, é já para todos evidente, dentro e fora do meu país, que a mudança em curso almeja uma Argentina aberta ao comércio exterior, activa nos fóruns multilaterais e em diálogo permanente com os seus pares.

As visitas oficiais a Buenos Aires realizadas ao longo do último semestre pelo Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, o Presidente da República Francesa, François Hollande, o Primeiro-Ministro da República Italiana, Matteo Renzi, e a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, constituem sinais inequívocos do crédito que a mudança produzida na Argentina prontamente gerou na comunidade internacional. Confiança que o Presidente Macri acaba de retribuir com uma deslocação à Europa que incluiu um primeiro encontro com a Chanceler da República Federal da Alemanha Angela Merkel.

De igual modo, a presença do chefe de Estado argentino na reunião anual de Davos, na Cimeira de Segurança Nuclear e na cerimónia de assinatura do Acordo de Paris, bem como a anunciada intenção da Argentina em incorporar a OCDE como membro pleno ou sócio estratégico, são demonstrações adicionais da firme vontade do novo Governo em voltar a participar em fóruns onde o país esteve ausente durante demasiado tempo. Foi aliás neste contexto que a República Argentina apresentou a candidatura da Chanceler Susana Malcorra a Secretária-Geral das Nações Unidas.

A nível regional, a dinamização da Aliança do Pacífico e o desejo de progredir nas negociações com vista à celebração de um Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia são outras manifestações do renovado interesse da República Argentina em firmar pactos bilaterais e multilaterais nas áreas do intercâmbio e da cooperação.

No plano financeiro, a reabertura ao mundo materializou-se no selar do litígio com os credores soberanos perante a justiça norte-americana. Após um longo exílio de quase 15 anos, a República Argentina regressou aos mercados internacionais de crédito com uma histórica emissão de obrigações no valor de 16,5 mil milhões de dólares. A operação, que foi precedida de um acordo celebrado na Câmara de Deputados e no Senado entre a oposição e o oficialismo, atraiu capital de diversas geografias e registou um nível de procura superior em mais de quatro vezes à oferta. Tal reacção reflecte a expectativa positiva com que, desde a tomada de posse do novo Governo, também os investidores internacionais passaram a avaliar a economia argentina.

O acordo com os credores retirou o país de uma situação de incumprimento e vai permitir à República Argentina, e também às suas empresas e às suas Províncias, aceder de forma regular ao crédito internacional, expectavelmente com taxas de juro cada vez mais baixas. O acordo facilitará ainda a concretização do investimento estrangeiro atento ao enorme potencial de crescimento da República Argentina num período de desaceleração da economia global.

Em paralelo, cumprindo o que prometera durante a campanha eleitoral, o Governo liderado pelo Presidente Mauricio Macri implementou um vasto conjunto de medidas destinadas a abrir a economia ao sector privado e a remover as barreiras ao investimento estrangeiro. Neste sentido, o cepo cambial foi extinto e a repatriação de lucros e de dividendos liberalizada. Procedeu-se ainda ao relançamento do Instituto Nacional de Estatística para assegurar a fiabilidade e a transparência da informação económica. Além disso, existe hoje a garantia soberana sobre a independência do sistema judicial argentino. Prosseguem ao mesmo tempo esforços intensivos para atingir o objectivo central de terminar o actual mandato com uma taxa de inflação próxima de zero.

À normalização institucional e à liberalização económica seguiu-se o anúncio de projectos nacionais de investimento obviamente abertos ao capital estrangeiro. Tais como o Plano Belgrano, que prevê investimentos de 10 mil milhões de dólares em infra-estruturas ao longo da próxima década, o Plano de Infra-estruturas para a Província de Buenos Aires, região onde habitam mais de 15 milhões de cidadãos, ou o Programa RenovAr, que visa aumentar a produção de energia renovável no país.

Pela sua experiência, competência e vertigem exportadora, todas as empresas portuguesas são muito bem-vindas à República Argentina. De facto, tal como já foi assinalado pelas autoridades dos dois países, e apesar da melhoria observada no primeiro trimestre do presente ano, o nível das trocas comerciais bilaterais continua longe da dimensão da amizade que há tanto tempo une portugueses e argentinos.

Aprofundar os nossos laços políticos, comerciais e culturais é justamente a minha primeira missão enquanto Embaixador da República Argentina na República Portuguesa. E os primeiros contactos realizados nesse sentido indiciam que também aqui novos e venturosos caminhos se estão a abrir.

Embaixador da República Argentina em Portugal

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