Morreu o artista plástico António Inverno

Membro da Academia Nacional de Belas-Artes e por ela premiado na área da pintura, era especialista em serigrafia. Colaborou na Seara Nova.

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António Inverno

O artista plástico António Inverno, 71 anos, morreu na quinta-feira, ao final da tarde, num hospital de Lisboa, disse à Lusa fonte próxima da família. Não foram adiantados ainda quaisquer pormenores sobre as exéquias do pintor.

Nascido em Monsaraz, em 1944, António Inverno entrou para a Escola António Arroio, em Lisboa, aos 14 anos, tendo tido como artistas responsáveis pela sua admissão - um requisito de ingresso, na época, para pessoas com poucos recursos financeiros -, os pintores Júlio Pomar e Bernardo Marques.

Enquanto estudante, foi moço de recados de uma empresa de publicidade da Sociedade Nacional de Sabões e empregado de Almada Negreiros, de quem não guardou gratas recordações, como contaria anos mais tarde, numa das muitas entrevistas que deu. António Inverno estudou e trabalhou no atelier do pintor, ceramista, ilustrador e caricaturista Jorge Barradas, na fábrica da Viúva Lamego, em Lisboa.

Em 1964, concluiu o curso de gravador litógrafo e, quatro anos depois, partiu em serviço militar para a Guiné-Bissau. Sobre este período afirmou numa entrevista: "Não a fiz a favor de Portugal, nem a favor de ninguém. Fiz a guerra por minha conta".

Pintor e especialista em serigrafia, Inverno foi colaborador da revista Seara Nova, e trabalhou com artistas como Júlio Pomar, Marcelino Vespeira, António Charrua, Eduardo Nery, Maria Keil, Francisco Relógio, Jorge Vieira, Espiga Pinto, Paula Rego, Manuel Cargaleiro, Artur Bual e Mário Cesariny, entre outros, realizando várias serigrafias dos diferentes artistas. Fez parte, tal como Almada Negreiros, dos criadores escolhidos para a decoração de interiores do edifício-sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Em 1972, abriu um atelier de serigrafia na rua da Emenda, na capital portuguesa, espaço também de várias tertúlias, e veio mais tarde a ter uma atelier em Beja, de onde foi desalojado. Trabalhava actualmente na Escola Superior de Educação da capital baixo-alentejana.
António Inverno foi sócio fundador da associação AR.CO - Centro de Arte & Comunicação Visual e do Centro Cultural de Almada, onde participou em várias ações de dinamização cultural. Era membro da Academia Nacional de Belas-Artes.

O artista realizou cartazes para peças de teatro, entre as quais O suicidário, de Nikolai Erdman, protagonizada por Mário Viegas, no Teatro Aberto. Numa entrevista ao Diário do Alentejo, António Inverno afirmou: "Trabalhei muito com o teatro. O teatro sempre me deu uma certa elasticidade mental, porque um indivíduo está sempre a fazer uma maqueta ou outra coisa qualquer, nunca pára. E parece mal dizê-lo, mas tenho cartazes sobre o teatro com uma certa piada".

Em 1995, venceu o Prémio Nacional de Pintura da Academia Nacional de Belas-Artes. O Presidente da República Mário Soares condecorou-o com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique. No ano passado, em Maio, inaugurou uma exposição de pintura e serigrafias, na Galeria dos Escudeiros, em Beja.

Sobre a sua obra, disse ao mesmo diário alentejano: "De um modo geral, as minhas coisas têm uma carga maçónica. Porque é uma filosofia que defendo e que pratico há muitos anos". Sobre as obras de arte afirmou numa entrevista à imprensa: "O pintor só considera a obra concluída, quando abre mão dela e perde completamente o seu contacto; caso contrário, nunca cessa de lhe vincar mais um contorno, de lhe meter aqui mais luz ou de lhe sombrear ali uma expressão". O artista está representado em várias colecções públicas e particulares, assim como em museus, em Portugal e no estrangeiro.

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