Passadiços do rio Uíma: um labirinto para os sentidos

O percurso ao longo do rio, em Santa Maria da Feira, será transformado de modo a proporcionar surpresas sensoriais ao grupo restrito "e privilegiado" de 150 visitantes que previamente se inscrevam para o efeito

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Os passadiços do rio Uíma têm 2,4 quilómetros e ficam em Santa Maria da Feira DR

O Parque das Ribeiras do Rio Uíma, em Santa Maria da Feira, recebe a 10 de Setembro um programa de actividades em que a proposta principal será um labirinto destinado a despertar no público sensações que habitualmente lhe passam despercebidas nesse cenário.

Na prática, a iniciativa anunciada pela câmara da Feira concretizar-se-á em duas vertentes complementares: a área mais ampla na entrada do passadiço fluvial de Fiães estará preenchida, sem limite de lotação, por actividades de lazer como um mercado biológico, concertos intimistas, danças, terapias corporais e bioenergéticas, jogos infantis e sessões de "showcooking"; e o percurso ao longo do rio, por sua vez, será transformado de modo a proporcionar surpresas sensoriais ao grupo restrito "e privilegiado" de 150 visitantes que previamente se inscrevam para o efeito.

"Este projecto visa unir a ecologia e a sustentabilidade às artes sensoriais, à saúde e ao bem-estar", explica David Santos, criador e produtor do labirinto intitulado "À flor da Terra".

"O conceito de Teatro Sensorial Labirinto não é muito utilizado em Portugal, mas a ideia é proporcionar uma experiência individual ao público, para que cada visitante passe a ser viajante — até imaginante — e crie a sua própria viagem neste cenário natural", acrescenta.

Cátia Lopes, a actriz que também está envolvida na concepção e execução do projecto, realça, aliás, que a experiência proporcionada pelo labirinto não dependerá apenas do seu espaço físico, "mas também da dramaturgia", que procurará "desafiar sentidos menos percorridos e sensações menos visitadas".

É com base nessa premissa que o presidente da autarquia, Emídio Sousa, declara que "este não é um projecto de massas", antes pretendendo "integrar o Homem e a Natureza sem aquele fundamentalismo de que não se pode tocar em nada" ao longo do rio. O percurso de duas horas e meia através do labirinto anuncia-se assim como uma oportunidade para testar novas formas de usufruto do parque do Uíma e para apurar sensações que já antes se podiam experimentar no local, "mas que agora vão ser melhor trabalhadas e descobertas". "A nossa meta é integrar a cultura numa área a que habitualmente ela não está ligada", defende o presidente da câmara.

"Vai ser um momento inovador, extraordinariamente diferente", garante. Toda a iniciativa do dia 10 de Setembro conta com a co-organização da Junta de Freguesia de Fiães, localidade onde se situa a maior parte do trajecto de 2,4 quilómetros ao longo das ribeiras do Uíma, e envolve também o Grupo Piedade, que apoia a iniciativa sobretudo no que se refere às suas necessidades logísticas de cortiça — material que, para Emídio Sousa, "faz todo o sentido neste projecto", dadas as suas mais-valias ao nível de sustentabilidade.

Procurando explorar os conceitos de Eco Art e Land Art, o evento terá nessa data a sua estreia, mas os promotores da iniciativa admitiram já que vêm equacionando a possibilidade de ela ter novas edições no futuro. A criação do conceito de Teatro Labirinto Eco-sensorial está atribuída ao antropólogo colombiano Enrique Vargas, director do Teatro de Los Sentidos de Barcelona.

Segundo esse, o termo aplica-se a uma experiência de teatro interventivo em que o público mergulha individualmente na obra, explorando o princípio de que, para se "compreender, interiorizar e produzir mudança, é necessário tocar, sentir, experimentar, vivenciar, refletir e criar".

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