Quem é que você ia chamar?

É boa ideia trazer estas actrizes para a frente do filme, é mau não haver nenhuma ideia sobre o que fazer com elas.

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Diga-se logo a abrir, e para despachar o assunto “polémico”, que a melhor ideia deste remake de Ghostbusters é a transformação da equipa de caça-fantasmas num agrupamento 100% feminino, com Chris Hemsworth no papel do poster boy apatetado. O único problema desta ideia é o facto de se tratar da única ideia do filme, como se imaginássemos os produtores (entre os quais se contam o realizador, Ivan Reitman, e um dos actores, Dan Aykroyd, do filme original de 1984) a pensarem: “precisamos de um twist qualquer – e que tal só miúdas nos papeis principais? – boa, e depois? – e depois, tanto faz”.

Tanto faz, realmente. Nem a mudança do género do quarteto protagonista é tornada significativa para além das piadas com o poster boy, fazendo avançar o filme pelos caminhos da comédia sexual (no sentido “político” do termo), nem a própria presença do elenco, reduzido a personagens não muito mais substanciais do que a natureza etérea dos fantasmas que perseguem, é explorada com o alcance que muito provavelmente merecia. Ou seja: se é boa ideia trazer estas actrizes para a frente do filme, é mau não haver nenhuma ideia sobre o que fazer com elas. Nem com o resto – em 1984 ainda havia alguma coisa a tirar da relativa novidade que era a tecnologia que permitia os efeitos especiais, o cruzamento entre a comédia e o fantástico talvez fosse vivida com outro sentido do risco. Aqui, francamente, os fantasmas parece que estão a mais, já não funcionam nem como ameaça nem como fonte de riso para uma paródia do cinema fantástico.

Toda a vida do filme, sobretudo a partir da segunda metade, quando se intensifica o combate às criaturas do outro mundo, vem dos apartes das personagens humanas e dos diálogos entre elas, e a ironia é que o tom blasé e ligeiramente maçado desses comentários e diálogos parece dirigir-se ao próprio filme, como se as personagens se estivessem a dirigir à bambochata em que as meterem.

Faz lembrar stand up comedy, e aquela tradição da comédia americana corporizada, por exemplo, pelo Saturday Night Live? Faz, claro, e era desse meio que vinham Bill Murray e Dan Aykroyd, vedetas do original (mais o falecido Harold Ramis), ambos com pequenos papéis neste remake, e é desse meio que vem por exemplo Kristen Wiig, juntamente com Melissa McCarthy a presença mais energética do filme de Paul Feig. Faz lembrar isso, e damos por nós a pensar que é pena que não faça lembrar mais – e que Ghostbusters não avance mais pelo absurdo, pelo humor auto-consciente e auto-sabotador, pela corrosão do próprio sentido da ideia de remake. Para um filme desses quem é que você ia chamar? Joe Dante. Mas Paul Feig não é um Joe Dante, e Ghostbusters saiu uma coisa tão meias-tintas que não servirá para entusiasmar nem os nostálgicos do original nem os que agora cheguem de fresco. 

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