Twitter expulsa jornalista de extrema-direita depois de abuso contra actriz

Leslie Jones, actriz de Ghostbusters, estava a ser agredida com comentários racistas.

Foto
"Esta noite vou deixar o Twitter, com lágrimas e tristeza no coração", escreveu Leslie Jones VALERIE MACON/AFP

A actriz Leslie Jones estava cansada das perseguições, não aguentou mais e escreveu os seus 140 caracteres: “Esta noite vou deixar o Twitter, com lágrimas e tristeza no coração. Tudo isto porque fiz um filme. Podem detestar o filme, mas a merda que aturei hoje… está errado.” Mas quem teve de deixar definitivamente a rede social não foi uma das protagonistas da sequela de Ghostbusters.

Se tentarmos encontrar um dos principais responsáveis pela perseguição que levou Jones a querer sair do Twitter e a abandonar os seus 260 mil seguidores deparamo-nos com a mensagem “Esta conta foi suspensa”. Milo Yiannopoulos, editor de tecnologia do Breitbert.com, que tuítava como @Nero, terá liderado as mensagens racistas contra a actriz (uma das que Leslie Jones partilhou, do YellowArmedImposter, comparava-a a um chimpanzé).

Activo nas redes sociais com a sua ideologia de extrema-direita, Yiannopoulos era já há algum tempo uma figura controversa. Com 338 mil seguidores, autoproclamava-se “o supervilão mais fabuloso da Internet”. Várias vezes recebeu suspensões temporárias do Twitter ou avisos de vigilância; no início deste ano até criou a hashtag #JeSuisMilo, recorda o Guardian.

No Breitbart, a notícia é apresentada de outra forma: a suspensão surgiu “apenas 20 minutos depois do seu evento ‘Gays for Trump’ estar a decorrer na Convenção Nacional Republicana. A justificação para a suspensão é actualmente desconhecida, apesar de poder ter resultado dos diferendos de Milo com a actriz de Ghostbusters, Leslie Jones. Milo foi suspenso apesar de não ter enviado quaisquer tweets abusivos à actriz”, lê-se no site.

Foi no Breitbart que Yiannopoulos reagiu contra a sua “suspensão cobarde”, que “confirma o Twitter como um espaço seguro para terroristas muçulmanos e extremistas do Black Lives Matter, mas uma zona interdita para os conservadores”. E questiona: “Onde estava a polícia do Twitter quando os fãs do Justin Bieber se cortaram em seu nome?” Para o editor, este é um acto da “esquerda regressiva totalitária, que lhe rebentará na cara, dando-me mais fãs que me adoram [entretanto, já foi criada a hashtag #FreeNero]. Estamos a ganhar a guerra cultural e o Twitter acabou de dar um tiro no pé”. “Isto é o fim do Twitter. Qualquer pessoa que preze a liberdade de expressão recebeu uma mensagem clara: não é bem-vindo ao Twitter”.

Os responsáveis da rede social já tinham sido criticados várias vezes por não fazerem o suficiente para controlar comportamentos abusivos na plataforma. Outras celebridades queixaram-se de serem vítimas de abusos, incluindo a escritora e actriz Lena Dunham, que em Setembro afirmou que tinha contratado alguém para escrever em seu nome porque aquele já não era um espaço seguro para si, recorda a Reuters.

Numa declaração enviada na terça-feira, o Twitter informa ter registado nas últimas 48 horas um “ligeiro” aumento do número de contas que violam as suas políticas de abuso e perseguição, às quais respondeu com avisos ou suspensões permanentes. “Sabemos que muita gente acha que não fazemos o suficiente para impedir este tipo de comportamento no Twitter. Concordamos”, lê-se no comunicado. “Continuamos a investir fortemente para melhorar as nossas ferramentas e sistemas de controlo para nos permitir identificar melhor e tomar medidas mais céleres quando os abusos acontecem e barrar os abusadores reincidentes”.

Num dos seus posts, Leslie Jones escreveu: “Twitter: percebo que tenhas liberdade de expressão, entendo. Mas tem de haver algumas linhas quando se deixa espalhar desta forma”.

O próprio CEO da rede, Jack Dorsey, enviou uma mensagem pública à actriz, pedindo-lhe que o contactasse. Para já, a sua conta ainda está activa.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários