O discurso de Michelle Obama em 2008 foi tão bom que Melania Trump o repetiu em 2016

O primeiro dia da convenção do Partido Republicano foi salvo pelo antigo mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani.

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Donald Trump apresenta a mulher aos delegados na convenção republicana Joe Raedle/Getty Images/AFP

O primeiro dia da convenção do Partido Republicano já estava a ser um pouco embaraçoso para Donald Trump: a revolta de um pequeno mas ruidoso grupo de delegados pôs em causa durante alguns minutos a imagem de unidade que o candidato queria passar desde o primeiro momento, e os discursos dos seus convidados estavam a ser tão entusiasmantes como uma boa noite de sono. Mas o pior ainda estava para vir: durante um discurso que deveria servir para realçar a bondade de Donald Trump, a sua mulher, Melania, parece ter plagiado dois parágrafos de um discurso de Michelle Obama em 2008.

Ninguém reparou na coincidência de imediato, mas no final do primeiro dia da convenção já ninguém falava de outra coisa. Nem da sensação de que os delegados estão mais unidos contra Hillary Clinton do que a favor de Donald Trump; nem de dois protestos nas galerias que quase passaram despercebidos – uma activista da organização Code Pink tentou desfraldar uma bandeira mas foi impedida pelos seus vizinhos de bancada e escoltada pela polícia para fora do pavilhão, pouco antes de outra activista ter exibido uma faixa onde se lia que os refugiados são bem-vindos.

Pormenores pouco importantes para quem esperava pelo grande momento da noite: o discurso de Melania Trump, e talvez uma breve aparição de surpresa do próprio Donald. E a surpresa foi desfeita aos primeiros acordes de We are the champions, dos Queen – com esta música a tocar e as luzes apagadas, só uma pessoa poderia estar prestes a subir ao palco. E de uma forma que fez lembrar um lutador de wrestling.

Primeiro a silhueta, depois o homem em carne e osso: Donald Trump acenava e sorria perante a histeria dos delegados, a imagem do salvador que vai pegar na América e fazer dela grandiosa outra vez. Trump subiu ao palco para apresentar a sua mulher mas pouco falou: “Muito obrigado. Vamos ganhar, vamos ganhar so big. Muito obrigado.”

Melania entra, junta-se ao marido, o marido sai, e Melania começa a falar. “Estou com o Donald há 18 anos, e tenho sido testemunha do seu amor por este país desde o momento em que o conheci. Nunca teve uma agenda escondida quando está em causa o seu patriotismo, porque, tal como eu, ele ama muito este país”, disse Melania Trump, antes de contar um pouco da sua história desde a Eslovénia, onde nasceu, até aos Estados Unidos, para onde foi em busca de uma carreira na moda e onde encontrou o amor.

Mas tudo o que Melania Trump disse foi abafado por dois parágrafos que deixou muitos republicanos embaraçados e ainda mais democratas deliciados com o presente que acabara de lhes cair do céu.

“Os meus pais incutiram-me os valores: que é preciso trabalhar muito para alcançarmos o que queremos na vida. Que a nossa palavra é o nosso vínculo e que temos de agir de acordo com o que dizemos e que mantemos as nossas promessas”, disse Melania Trump na noite de 18 de Julho de 2016.

Há oito anos, na convenção do Partido Democrata que nomeou Barack Obama, a sua mulher, Michelle, disse algo parecido. Ou muito parecido. Ou mesmo igual. “O Barack e eu crescemos com muitos valores iguais: que temos de trabalhar muito pelo que queremos na vida; que a nossa palavra é o nosso vínculo e que temos de fazer aquilo que dizemos que vamos fazer; que temos de tratar as pessoas com dignidade e respeito, mesmo se não as conhecermos, e mesmo que não concordemos com elas.”

A cassete avança oito anos, e é Melania Trump a falar: “Temos de transmitir essas lições às gerações seguintes, porque queremos que os nossos filhos nesta nação saibam que o único limite àquilo que podem alcançar é a força dos seus sonhos e a sua vontade de trabalhar para concretizá-los.”

A aparição surpresa de Donald Trump Carlo Allegri/Reuters
Melania Trump vai estar no centro das atenções dos democratas Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Donald Trump apresenta a mulher aos delegados na convenção republicana Joe Raedle/Getty Images/AFP
Rudy Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque, fez um discurso apaixonado Robyn BECK/AFP
Chris e Andrew Christie: pai e filho estiveram juntos na convenção Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Scott Walker, governador do Wisconsin, tira uma selfie Joe Raedle/Getty Images/AFP
Willie Robertson, mais um empresário-celebridade na convenção Jeff Swensen/Getty Images/AFP
Delegado republicano do Indiana Joe Raedle/Getty Images/AFP
Star-Spangled Banner, o hino nacional, foi um dos momentos da noite Win McNamee/Getty Images/AFP
Guarda de Honra da convenção republicana John Moore/Getty Images/AFP
Vista geral da convenção John Moore/Getty Images/AFP
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A aparição surpresa de Donald Trump Carlo Allegri/Reuters

Algo que Michelle Obama já dizia em 2008: “Eu e o Barack fizemos as nossas vidas guiados por estes valores, e passámo-los à geração seguinte. Porque queremos que os nossos filhos – e todos os filhos desta nação – saibam que o único limite para o que podem conquistar é o alcance dos seus sonhos e a sua vontade de trabalhar para concretizá-los.”

Numa primeira resposta, o responsável pela comunicação da campanha de Donald Trump, Jason Miller, não fez referência à polémica, limitando-se a afirmar que o discurso de Melania Trump foi inspirador: “Quando escreveram o seu maravilhoso discurso, os elementos da equipa de Melania tiraram notas sobre os aspectos que a inspiraram, e em alguns casos foram incluídos fragmentos que reflectem o seu próprio pensamento. A experiência de Melania como imigrante e o seu amor pela América brilharam no seu discurso, e foi o que fez dele um sucesso tão grande.”

A juntar à polémica, Melania Trump disse numa entrevista à CNN, antes da convenção, que foi ela quem escreveu o discurso, “com uma pequena ajuda”.

O primeiro dia da convenção do Partido Republicano foi salvo pelo antigo mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani, com um discurso apaixonado que pôs toda a gente de pé, e do xerife David Clarke, do Wisconsin, que arrebatou a multidão com a frase “Blue lives matter” (“as vidas azuis importam”, numa referência à cor da farda e aos oito polícias que foram mortos nos últimos dias, cinco em Dalas e três no Luisiana). Clarke, que é afro-americano, criticou os protestos de movimentos como o Black Lives Matter (“as vidas dos negros importam”), que surgiu em resposta à morte de cidadãos negros por agentes brancos.

Entre os principais oradores no segundo dia da convenção do Partido Republicano, esta terça-feira, estão o speaker da Câmara dos Representantes, Paul Ryan (que hesitou muito antes de apoiar Donald Trump); o governador de Nova Jérsia, Chris Christie (que esperava ter sido escolhido como candidato a vice-presidente mas foi ultrapassado por Mike Pence); o neurocirurgião reformado Ben Carson (que concorreu nas primárias mas acabou por desistir e apoiar Donald Trump).

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