Escolas decidem como e quando fazem chegar aos pais os resultados das provas de aferição

O aluno “respondeu de acordo com o esperado, ou fê-lo com falhas pontuais”, ou “mostrou dificuldades na resposta”? E se sim, quais? Para cada domínio, alunos, pais e escolas vão ficar a saber onde houve erros e de que tipo.

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“Resultados agregados a nível nacional” vão ser divulgados na próxima semana rui farinha/Nfactos

Os relatórios individuais das provas de aferição — um por cada aluno do 2.º, 5.º e 8.º anos do ensino básico que este ano se submeteu a este tipo de prova  — começaram a chegar nesta segunda-feira às escolas. E cada uma decidirá como vai dar a conhecer este documento aos encarregados de educação. Pode decidir que o faz por email, por exemplo, ou pode optar por convocar as famílias para uma reunião, de forma a ajudar os pais a interpretar a informação sobre o desempenho dos seus filhos. Não há um prazo definido: as escolas podem fazê-lo já ou apenas nas reuniões de arranque do ano lectivo.

As provas de aferição, a Português e Matemática, foram realizadas este ano em 57% das escolas básicas do país (para o ano são obrigatórias em todas), o que significa que foram produzidos "pouco menos de 50 mil relatórios individuais” de aluno, por cada um dos três anos de escolaridade, explicaram o presidente do Instituto de Avaliação Educativa, Hélder Sousa, e o secretário de Estado da Educação, João Costa, numa sessão de apresentação deste novo instrumento de informação aos pais.

Estas provas, recorde-se, não contam para nota, nem esperem os pais encontrar nos relatórios dos seus filhos uma classificação. O que vão encontrar, sim, é uma descrição do desempenho do aluno por “domínio de aprendizagem”. O aluno “respondeu de acordo com o esperado, ou fê-lo com falhas pontuais”, ou “mostrou dificuldades na resposta”? E se sim, quais? Ou não conseguiu responder “de acordo com o esperado”? Ou não respondeu de todo?

A ideia é detectar que tipo de erro cometeu o aluno, em cada questão e em cada grupo de questões, afirmou Hélder Sousa. Eis um exemplo de “descrição” que um pai poderá encontrar no relatório do seu filho, relativo à prova de Matemática do 8.º ano, no domínio “números e operações”: “Não conseguiu escrever cinco números reais por ordem crescente; não conseguiu determinar dois números naturais cujo quociente é igual a uma dada dízima infinita periódica; não conseguiu indicar quais são os números naturais, maiores do que 200 e menores do que 350, cuja raiz quadrada é um número racional.”

Outro exemplo, desta feita da prova de Português, domínio “compreensão do oral”: o aluno “conseguiu reter informação apresentada no texto ouvido, mas não conseguiu fazê-lo de forma sistemática”. É este tipo de informação que é dada.

Radiografia da escola

A produção destes relatórios individuais “resulta de um processo técnico complexo” (a combinação de diferentes possibilidades de resposta previstas nas grelhas de avaliação das provas pode dar origem a 8 mil relatórios individuais diferentes, exemplificou Hélder Sousa). E isto permite dar aos alunos, pais e escolas uma informação muito mais detalhada do que uma mera classificação de 1 a 5, defendeu.

“Quando vamos ao médico, se depois de uma bateria de exames ele dissesse que numa escala de zero a 100 a nossa saúde estava em 70, mudávamos de médico. Faltam 30 pontos para ter uma saúde excelente? Mas o que é que isso significa? Falta o quê? Na Educação habituámo-nos a que fosse assim”, afirmou. Já estes relatórios vêm trazer notícias sobre onde estão as falhas, disse ainda o presidente do Instituto de Avaliação Educativa, sublinhando que, com estas características, “são pioneiros e fazem-se em muito poucos países”, sendo que não conhece nenhum onde sejam tão detalhados.

Nos próximos dias, adiantou, por seu lado, o secretário de Estado João Costa, as escolas receberão também um outro documento: o relatório de escola das provas de aferição. Na prática, esses relatórios de escola agregam a informação dos relatórios individuais de cada aluno, em cada disciplina, por turma e por estabelecimento de ensino.

Com eles, directores e professores ficarão a saber quantos dos seus alunos conseguiram responder de acordo com o esperado aos itens relacionados com “compreensão oral”, por exemplo, ou quantos “responderam com dificuldade” aos itens de “geometria e medida”, sendo que na ficha que haverá para cada turma o detalhe é ainda maior.

“Isto vai permitir ao gestor da escola olhar para este relatório e, se calhar, fazer algumas descobertas”, disse João Costa. “Na minha escola há um problema com a gramática’, ou ‘há uma turma onde há problemas de leitura e as outras turmas estão bem’.” Este “olhar mais fino”, prosseguiu, permitirá “desenvolver estratégias”, por exemplo, dirigindo horas de apoio para dificuldades específicas reveladas pelos alunos. "Por exemplo, numa escola, em vez de haver uma hora de apoio para Matemática, passa a haver uma hora de apoio para Geometria, se for essa a única área em que há dificuldades."

Na próxima semana, afirmou ainda o governante, o ministério divulgará à comunicação social “resultados agregados a nível nacional”.

João Costa faz questão de sublinhar que as provas de aferição, que vieram substituir os exames nacionais no final do 1.º e 2.º ciclo (que contavam 30% para a classificação final), e que a partir do próximo ano serão feitas, rotativamente, a mais disciplinas (no 5.º ano, por exemplo, não se fará teste de Português e sim de História e Geografia de Portugal) devem sempre ser lidas a par dos resultados da avaliação que é feita pelos professores ao longo do ano. São um "complemento", têm como função "perceber a meio do ciclo" de estudos as dificuldades dos alunos, de forma a corrigir a rota, servem também para fazer a "aferição do sistema". Testam "o que o aluno sabe de facto" e não "o que empinou de véspera".

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