Low-costs, o céu é o limite!

Importa olhar à volta para aprender a fazer as coisas melhor, com procedimentos que reduzam os custos, sem tocar na qualidade.

O notável sucesso das carreiras de aviação low cost tem vindo a alimentar outras iniciativas em variados âmbitos. Muitos dos oligopólios desfazem-se, pois a competição leal é benéfica para o cidadão utilizador dos produtos/serviços. Ao mesmo tempo, a empresa prestadora renova-se e faz-se mais competitiva, adaptando-se à realidade. Os monopólios, quaisquer que sejam as razões de existência, são um mal-gastar do dinheiro do contribuinte e um mau serviço à sociedade. Veja-se o que se passou com as carreiras de aviação aqui entre nós: ao haver uma só, com uma subsidiária insignificante, o preço de uma viagem doméstica ou para as cidades da vizinha Espanha era muito elevado. Agora, com o “céu aberto” e com a EasyJet e RyanAir praticando preços baixos, elas enchem as aeronaves e têm lucros. Além disso, os voos são superpontuais, como o utilizador gosta, longe dos atrasos da companhia incumbente, antes e após perder o monopólio, mesmo com voos mais caros.

O conceito low cost está a migrar com rapidez para muitos mais sectores. Com iniciativas bem lançadas, como as da Uber, Olá, Airbnb, etc., já estão alguns operadores clássicos a clamar protecção; deveriam, em todos os sectores, procurar modernizar-se, para ganhar mais eficiência, para competir numa base justa e séria!

Uma iniciativa de saúde interessante surgiu, há 30 anos, com o nome de Aravind Eye Care System, no Sul da Índia, agora com cinco hospitais em funcionamento, mais um em construção e outros três em projecto. Atendem mais de 1,7 milhões de pacientes, fazendo mais de 250.000 operações às cataratas por ano. Apenas 40% dos pacientes pagam a conta e os restantes 60%, por serem pobres, não pagam nada. Mesmo sendo poucos a pagar os preços de mercado, a exploração do conjunto é superavitária. A entidade é eficientíssima, bem organizada, para evitar perdas de tempo do médico ou de outro pessoal. Enquanto cada médico faz aqui mais de 2000 operações às cataratas por ano, a média dos hospitais da Índia é de 220, por faltar uma organização capaz, virada para a produtividade e qualidade.

Outra, de que recentemente se falou, pelo seu alto valor na Bolsa de Bombaim, foi a Thyrocare, um laboratório de análises, incluindo as mais complexas à tiróide, com sede em Bombaim. Tem já 1122 pontos de recolha de amostras na Índia, Nepal, Bangladesh e Médio Oriente. Integra também uma grande rede de laboratórios de diagnóstico de saúde. Fundada por Velumani há 20 anos foi valorizada na Bolsa em $505 milhões, em 13 de Maio de 2016. Velumani é dono de 64% das acções, nasceu numa família paupérrima, próximo de Chennai e foi estudando com as bolsas de estudo que obteve. Formou-se em Química e, depois de três anos num laboratório farmacêutico que faliu, trabalhou como assistente de laboratório no BARC— Bhabha Atomic Research Centre, Bombaim, onde, enquanto trabalhava, foi fazendo o mestrado e doutoramento (PhD) em bioquímica da tiróide. Após 14 anos sai da BARC para ir testar e detectar problemas da tiróide. Começa com um laboratório em Bombaim, bem junto do Tata Memorial Hospital, dedicado ao cancro.

Como há muita gente que sofre de hipotiroidismo na Índia, sendo as mulheres mais vulneráveis, com complicações no período de gravidez e no perinatal. A detecção de tais problemas era demasiado baixa, pela pobreza reinante.

Velumani, definiu um modelo de negócio, com muitos laboratórios franquiados, para ter um mínimo de 25 testes diários da tiróide. As amostras são enviadas para o laboratório central ou quatro laboratórios regionais bem equipados da Thyrocare. Cobra apenas 25% dos preços de mercado, para poder chegar aos mais pobres. As economias de escala, resultantes de um elevado número de testes, compensam o baixo preço cobrado. Foi acrescentando os diagnósticos de saúde, incluindo check ups médicos de prevenção, testes de sangue, da função pulmonar, etc. Mas 28% do total são testes da tiróide.

Importa olhar à volta para aprender a fazer as coisas melhor, com procedimentos que reduzam os custos, sem tocar na qualidade. E procurar atrair muitos que necessitam do serviço, tratando-os dos seus males e viabilizando o modelo de baixo custo. De facto, a riqueza está na base da pirâmide, onde está o amplo estrato populacional que só pode pagar preços muito reduzidos e necessita dos mesmos serviços que os ricos.

Professor da AESE. Dirigente da AAPI

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