O tudo ou nada de Richie Porte

Aos 31 anos, o australiano de Launceston, na Tasmânia, conquistou o direito de ser líder.

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KENZO TRIBOUILLARD/AFP

Antes de protagonizar a icónica imagem que ficará para a história deste Tour, Chris Froome lançou um último olhar de desespero na direção de Richie Porte. Ao contrário de tantas outras vezes, o australiano prosseguiu a marcha, passando ao seu lado, sem ter a coragem de encarar o rosto aflito daquele que é um dos seus melhores amigos. “Fora da bicicleta, continuamos a ser amigos, mas na bicicleta é importante dizer que somos rivais. Quero derrotá-lo”, tinha assegurado à partida. Mas ninguém acreditou nas palavras.

Dia após dia neste Tour, a sua fidelidade à BMC foi sendo questionada. A cada etapa de montanha, quando era um dos poucos a aguentar a pedalada do duplo vencedor da Volta a França, a sensação que persistia era que poderia ir mais longe, atacar, expor as debilidades do seu habitual companheiro de treino e vizinho no Mónaco. Mas, à 12.ª etapa, Richie Porte demonstrou que o seu cordão umbilical com a Sky, que representou com brio durante quatro temporadas – fez parte do nove das três Voltas a França ganhas pela formação britânica está definitivamente cortado. “Não espero favores deles e penso que eles também não o esperam de mim”.   

Aos 31 anos, o australiano de Launceston, na Tasmânia, conquistou o direito de ser líder. “É o primeiro Tour em que tenho uma verdadeira oportunidade pessoal. Espero aproveitá-la ao máximo. Pude planear toda a temporada em função desta corrida. Quando estás numa equipa com o Chris Froome, evidentemente vais servir de apoio, de empregado. É algo gigantesco vir aqui e não ter de me sacrificar por um líder. Este ano é tudo para mim”. Porte, contudo, não foi completamente rigoroso. Primeiro, porque está a dividir a liderança da BMC com Tejay Van Garderen, que no domingo perdeu algum terreno na classificação geral. E, depois, porque, no seu percurso na Sky, teve dois momentos para se assumir como chefe de fila e em ambos fracassou.

Voltemos, então, atrás na carreira de "Fish". Foi precisamente na Saxo-Bank, equipa que lhe deu o passaporte para a primeira divisão do ciclismo em 2010, que este antigo nadador salvador e triatleta ganhou a alcunha ao nadar 72 metros sem vir à tona. Ciclista tardio, o australiano, que emigrou para Itália aos 22 anos, teve uma estreia fulgurante nas grandes Voltas, vestindo a camisola rosa do Giro e consagrando-se como o melhor jovem, com o seu sétimo lugar. Porte prometia muito, mas o seu potencial para as "grandes" nunca se confirmou. Chamado à responsabilidade de substituir Froome, quando este foi forçado a abandonar em 2014, terminou no 23.º lugar. E, no ano seguinte, na qualidade de líder da Sky e de grande favorito à vitória no Giro, arrastou-se e abandonou. Nas duas ocasiões, o veredicto dos especialistas foi o mesmo: o aussie não soube lidar com a pressão.

Porte tem, neste Tour, talvez a derradeira oportunidade de mostrar que aprendeu com o seu amigo Froome e que, também ele, pode ser um verdadeiro candidato à vitória nas ‘grandes’ do ciclismo e não apenas um excelente corredor de provas de uma semana, a base de um currículo com 21 triunfos, entre os quais pontificam a Volta ao Algarve (2012), o Paris-Nice (2013 e 2015), a Volta à Catalunha (2015) e o Giro di Trentino (2015). 

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