Obras de Le Corbusier e de Oscar Niemeyer já são Património da Humanidade

Situação política na Turquia motivou fim antecipado da 40.ª sessão do Comité da UNESCO em Istambul, que terminou este domingo.

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Igreja de Saint-Pierre, projecto de Le Corbusier AFP

Um conjunto de 17 edifícios projectados por Le Corbusier (1887-1965) em sete países de todo o mundo e o complexo moderno de Pampulha, no Brasil, de autoria de Óscar Niemeyer (1907-2012), estão entre os novos quatro sítios inscritos este domingo pela UNESCO na lista do Património da Humanidade.

Foram também classificados o estaleiro naval e complexo arqueológico de Antíqua-e-Barbuda, nas Caraíbas, e o Parque Nacional de Khangchendzonga, na Índia – comunicou a organização, ao mesmo tempo que anunciou que a reunião que desde o passado dia 10 decorria em Istambul terminaria este domingo, 17, em vez do dia 20, como inicialmente agendado, em consequência da situação política da Turquia.

Entre os 17 projectos do arquitecto franco-suíço espalhados pela França, Alemanha, Bélgica, Suíça, Índia, Japão e Argentina, o comunicado da UNESCO cita o Capitólio de Chandigarh (Índia); o Museu Nacional de Belas Artes do Ocidente, em Tóquio; a Casa do Doutor Curutchet, em La Plata (Argentina); e a famosa Unidade de Habitação de Marselha, construída a seguir à II Guerra Mundial e que ficou conhecida como “Cidade Radiosa” tornando-se uma referência fundamental do Movimento Moderno.

São obras que “testemunham a invenção de uma nova linguagem para a arquitectura, em ruptura com o passado”, diz a organização, considerando ainda que o conjunto dos edifícios agora classificado “reflecte soluções que o Movimento Moderno trouxe para responder aos desafios da renovação” da Arquitectura ao longo do século XX. Além disso, são “obras-primas do génio humano”, que atestam igualmente a internacionalização da “prática da arquitectura à escala planetária”.

Em França – país representado em 10 das obras do conjunto de Le Corbusier –, a classificação foi celebrada como o termo feliz de um processo que se arrastou ao longo de quase uma década, já que a primeira tentativa de integração desta série de projectos na lista do Património da Humanidade remonta a 2009.

“É uma boa notícia, passados mais de dez anos de trabalho, de concertação e de dois fracassos”, disse, comentando a notícia, e citado pelo Le Monde, Benoît Cornu, presidente da Associação dos Sítios Le Corbusier.

A UNESCO vê também no “conjunto moderno de Pampulha”, em Belo Horizonte, “um projecto visionário de cidade-jardim”, marcado por “formas audaciosas que exploram as propriedades plásticas do betão e fundem diferentes expressões artísticas – a arquitectura, o paisagismo, a escultura e a pintura – para criar um todo harmonioso”.

Este complexo de cultura e lazer que Óscar Niemeyer assinou em parceria com vários artistas brasileiros foi construído em 1940, na capital de Minas Gerias, em volta de um lago artificial – é constituído por um casino, um salão de baile, um clube de golf e a Igreja de São Francisco de Assis.

As duas outras candidaturas consagradas em Istambul – depois das cinco anunciadas na sexta-feira, poucas horas antes da eclosão da tentativa de golpe militar no país – são o estaleiro naval de Antiqua e o Parque Nacional de Khangchendzonga. O primeiro é um conjunto de edifícios e instalações portuárias da época georgiana (século XVIII), rodeado por uma cintura fortificada, construído pela marinha britânica com recurso ao trabalho de escravos africanos, para servir os interesses dos exploradores da cana-de-açúcar. Além da componente edificada, é também destacado o cenário natural, com baías fundas rodeadas de montanhas, que faziam deste lugar um abrigo importante para a atracagem e a reparação das embarcações.

O Parque Nacional de Khangchendzonga – classificado na categoria de "bens mistos" – fica no coração dos Himalaias, no norte da Índia, e além da espectacularidade natural, com os seus montes coroados de neves, planaltos, vales, lagos e florestas milenares, é também um repositório cultural único, cheio de lugares de devoção e marcado por práticas da religião budista.

Segundo noticia o Le Monde, o fim abrupto da 40.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO deixou por concluir a agenda inicialmente prevista, e que tinha na ordem de trabalhos a análise de 29 candidaturas. Mas o diário francês avança, citando um membro da delegação deste país em Istambul, Marc Petit, que “uma sessão extraordinário deverá ser organizada em Paris, no próximo mês de Setembro, para as candidaturas que não puderam ser analisadas em Istambul”.

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