Nortada da boa
A este vento extraordinário dão o nome de Nortada. Nortada?! Pois se vem do Norte como se havia de chamar?
Aqui no Sotavento há, muito de vez em quando, um vento quente que sopra do interior algarvio e alentejano. Começa a sentir-se por altura do pôr do sol, quando a temperatura desce abaixo dos 20 graus. Chega esse vento e a temperatura sobe, já a noite caiu, mais 3 ou 4 graus. A sensação é estranha – geralmente quanto mais luz, mais calor – mas maravilhosa, criando noites quentes em que o verão está no vento.
A este vento extraordinário dão o nome de Nortada. Nortada?! Pois se vem do Norte como se havia de chamar? De repente lembramo-nos que estamos no extremo sul de Portugal. Os pescadores com que falo dizem “sabe, o interior algarvio é muito quente… não é como aqui”.
Quando explico que no resto do país a nortada é fria e mal recebida eles compreendem logo: pois se vocês já vivem em locais frios, não deve saber nada bem levarem com um vento ainda mais frio…
Os ventos daqui são todos interessantes. Há o vento africano que atravessa poucos quilómetros para aqui chegar, entrando pelo mar e pela praia. É muito bom estar entre os primeiros a recebê-lo, dentro do mar algarvio que, sendo doce, ganha sempre em aquecer um bocado, mesmo para lá do que seria legitimamente expectável.
Agora está o vento de levante, que vem do Mediterrâneo. Aquece muito as águas mas levanta ondas grandes que chegam a ser traiçoeiras, sobretudo para quem está habituada à piscina com ondinhas de bebé a que regride o oceano atlântico por estas deleitosas paragens.
Há, por fim, uma brisa salvífica e fresquinha que é preciso saber encontrar porque sopra durante as horas do dia de maior calor, começando logo pelas 8 ou 9 horas. Raramente se deixa interromper mas, quando deixa, o ar quente fica parado debaixo do fogo do sol e fica-se com uma breve mas esclarecedora ideia do inferno, pouco depois seguida, invariavelmente, pelo paraíso bem ventilado do costume.