Comissão Europeia alimenta a indústria da vaidade

Vários especialistas têm vindo a alertar há anos para o desaparecimento do elefante africano a curto prazo, vítima da caça furtiva para obter marfim, se não forem tomadas medidas enérgicas

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Casey Allen/Unsplash

No dia 1 de Julho a Comissão Europeia (CE) apresenta um documento no qual sustenta a sua decisão de se opor a uma proibição global do comércio de Marfim. Por incrível que pareça esta não foi uma notícia com relevância suficiente para se fazer ouvir em Portugal. Esta decisão juntou 29 governos africanos num apelo global a um reposicionamento da CE sob pena da extinção em massa do elefante africano. Vários especialistas têm vindo a alertar há anos para o desaparecimento da espécie a curto prazo, vítima da caça furtiva para obter marfim, se não forem tomadas medidas enérgicas.

A taxa de mortalidade destes animais é tal, que a cada 15 minutos, um elefante em algum lugar é morto por caçadores furtivos. Os especialistas asseguram que as populações de elefantes traumatizados em África são cada vez mais noctívagos e migram em grupos até 550 numa tentativa de se protegerem dos caçadores furtivos. A Comissão Europeia argumenta que, em vez de uma abrangente proibição, o melhor será encorajar os países com o número de elefantes em crescimento a " gerirem de forma sustentável " as suas populações.

Com 28 membros, a União Europeia (UE) representa o maior bloco de eleitores na CITES — Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção. A capacidade de financiamento e a dinâmica comercial da UE são fortes influências no mundo em desenvolvimento, para além do seu poder de influenciar também nas questões éticas, de proteção ambiental e direitos dos animais. Pelo que a posição assumida nesta matéria é contraditória, se por um lado, a Europa afirma concordar com uma extensão da proibição actual do comércio do chamado “ouro branco”, por outro, adopta um sistema de excepções na proibição que permitem a exportação de alguns produtos derivados de marfim.

Se o elefante africano fosse incluído na listagem do «anexo I» da CITES — que abrange todas as espécies em vias de extinção, o comércio internacional de marfim seria proibido integralmente. E a posição da Europa chega-nos, camuflada de um demagógico e incoerente pedido de equilíbrio. De acordo com declarações oficiais de um representante da UE ao The Guardian, reconhece-se que o comércio interno de marfim deve ser proibido, nas situações em que pode facilitar o comércio ilegal, mas não estão totalmente de acordo com a inclusão do elefante africano no referido anexo, querendo em vez disso, “encorajar os países africanos a terem um diálogo” e enquanto os tecnocratas do sistema incitam o diálogo, existem seres vivos sensíveis a serem mortos e extintos em grande escala para alimentar a vaidade do Ser Humano.

Grandes empresas como a Google e a Amazon já recusaram participar neste comércio cruel. Se a situação não se inverter, o elefante africano está condenado pela caça furtiva, que visa as suas presas, em marfim. O “ouro branco” faz o seu circuito pela Malásia, Vietname, Filipinas ou Hong-Kong, antes de chegar ao seu destino final, a China, e, numa parte menor, a Tailândia, países onde o marfim é trabalhado para dar origem a jóias, esculturas e outras obras de arte populares entre os asiáticos ricos.

Estamos prestes “a ir a banhos” e ainda bem, pessoal e profissionalmente foi um ano particularmente intenso e este é também um período de balanço. Tenho tido um contacto muito próximo com a necessidade de um novo projecto de sociedade pensado para o século XXI. Mas também tenho tido um contacto muito próximo, com a ideologia que ainda vigora e que promove uma economia de consumo infinito, num sistema ecológico de recursos finitos, a objectificação dos restantes animais e ecossistemas, tal como a competição e a agressividade em detrimento da cooperação e da não-violência.

Se a coordenação e cooperação entre os países e entre os vários organismos e instituições de cada país fosse uma realidade e uma vontade política genuína não teríamos animais em risco de extinção para alimentar a indústria da vaidade.

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