Froome caiu, correu, mudou de bicicleta e continuou de amarelo

O ciclista britânico manteve a camisola amarela na Volta a França em bicicleta.

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Apesar do acidente, Froome manteve a camisola Jean-Paul Pelissier/Reuters

"No próximo ano, talvez o Chris [Froome] corra a maratona de Paris" – David Brailsford, manager da Team Sky. Esta frase ajuda a perceber o cenário surreal da etapa 12 da Volta a França, que será uma das mais incríveis e bizarras da história da prova francesa. Na subida ao Mont Ventoux, após terem ganho vantagem sobre os restantes favoritos, Richie Porte (BMC), Bauke Mollema (Trek) e Chris Froome (Sky) caíram, após colidirem com uma mota que travou para não embater no público. Froome, sem bicicleta, subiu algumas dezenas de metros a pé, oferecendo uma das imagens mais marcantes da história da Volta a França. Caos na frente da corrida, com o grupo dos favoritos a ultrapassar o trio azarado. Mollema foi o único que conseguiu seguir.

As primeiras classificações divulgadas davam um novo camisola amarela, Adam Yates (Orica), mas uma nova actualização manteve Froome como líder reforçado do Tour, com 47s de vantagem sobre Yates, 56s para Mollema e 1m01s para Nairo Quintana (Movistar). A organização acabou por atribuir a Froome e Porte o mesmo tempo de Mollema. Este episódio surreal parecia ter sido a “sorte grande” de Yates e, sobretudo, de Nairo Quintana (Movistar), que não só recuperaria o que perdeu na subida, como ainda partiria para o contra-relógio da 13.ª etapa com 39 segundos de vantagem para Froome.

Tudo isto se passou já após Thomas De Gendt (Lotto) ter vencido a etapa, depois de ser o mais forte entre o trio de fugitivos. Serge Pauwels (MTN) e Daniel Navarro (Cofidis) completaram o pódio. O belga chegou à liderança da classificação da montanha, com nove pontos de vantagem para Pinot, e vai vestir às “bolinhas” na etapa 13.

Froome ficou alguns minutos sem a amarela

Froome, que ficou sem a amarela durante alguns minutos até à decisão final da organização da corrida, explicou o episódio. "Tive de correr a pé, eu sabia que o carro com a minha outra bicicleta ia demasiado longe. Estou muito feliz com a decisão dos comissários, que está correcta”, terminou Froome.

Já Adam Yates, que "roubou" a amarela a Froome durante breves minutos, mostrou um grande desportivismo. "Eu não me sentiria bem por usar a amarela desta forma", disse Yates. "Eu estava com Quintana e Valverde quando houve o incidente de Froome. Acho que os comissários tomaram a decisão certa", reconheceu.

A história da etapa

Este dia já prometia ser um dos dias marcantes do Tour 2016. E mal se sabia o que aí vinha. Para o feriado do dia Nacional de França – celebrado no dia da tomada da Bastilha, em 1789 –, estava marcada a subida ao mítico Mont Ventoux, que poderia estabelecer, de vez, a hierarquia entre os favoritos à vitória. Devido à ameaça de vento na ordem dos 100km/h, a subida ao Mont Ventoux foi encurtada e a etapa terminou seis quilómetros antes, no Chalet-Reynard.

Quando começou a subida ao Mont Ventoux, a dez quilómetros do final, começou também a “diversão” no pelotão. Surge o ataque de Quintana, com Froome a confiar nos seus colegas, deixando a resposta a cabo de Poels e Henao. Alguns metros mais à frente, atacou Froome, com resposta imediata de Quintana e Porte, numa primeira fase, e apenas de Porte, numa segunda fase. Cedeu Quintana, que acabou por ser apanhado pelo grupo dos favoritos, de onde saiu Mollema, juntando-se a Porte e Froome.

Com os espectadores a provocarem uma enchente na estrada, uma mota da organização foi obrigada a travar a fundo, levando Porte, Froome e Mollema a caírem. A partir daqui, a história já é conhecida e está a correr o Mundo. Froome fez de tudo para retomar a corrida: levantou-se, correu, usou uma bicicleta neutra, largou essa bicicleta, montou-se numa da Sky e terminou a etapa em 25.º lugar, ele que já venceu uma vez no Mont Ventoux, em 2013.

As dificuldades da mítica etapa alpina colocaram em evidência a fragilidade de Quintana, ele que é um especialista na montanha. Até ao acidente de Froome, o colombiano estava a perder tempo e mostrava até dificuldades em manter-se junto de Yates, Aru, Meintjes, Bardet e Rodriguez. Sexta-feira, no contra-relógio, Quintana terá de dar uma boa resposta, sendo que, mesmo que a dê, devido aos sinais mostrados, a vitória no Tour será muito complicada para o colombiano. Pelo contrário, o Mont Ventoux confirmou a boa forma de Richie Porte (parece ser o segundo mais forte, neste momento) e de Bauke Mollema - o holandês parte para a 13.ª etapa no pódio e foi o único que foi na roda de Froome e Porte.

Os portugueses Rui Costa e Nélson Oliveira tiveram um dia complicado e chegaram ambos a mais de 20 minutos de De Gendt. Na geral, Costa é 55.º, a 1h2m3s, enquanto Oliveira mantém o 123.º posto, a 1h58m22s. 

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