Ganhámos o Euro como quisemos

Eu sei que isto pode chocar muita gente, mas quem ganhou o Euro foi Marcelo Rebelo de Sousa

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Rui Gaudêncio

Eu sei que isto pode chocar muita gente, mas quem ganhou o Euro foi Marcelo Rebelo de Sousa. Dias antes da partida da comitiva portuguesa para Marcoussis, o Presidente da República cancelou a reunião semanal com o primeiro-ministro (falaram à noite, pelo WhatsApp) e reuniu com Fernando Santos. A estratégia baseou-se na História: sempre que fomos enormes, desbaratámos tudo. Foram os diamantes africanos, as especiarias da Índia ou a madeira do Brasil. A tática teria que ser outra: somos bons a remediar. A cabular nos exames.

Fernando Santos é engenheiro. Eu cheguei a estudar Engenharia e sei que é impossível concluir a licenciatura sem truques. José Sócrates confirma-o.

O Presidente disse ao seleccionador nacional que sabia que poderíamos ganhar 5-0 a todos os adversários, mas a equipa não poderia sabê-lo. Caso contrário, iria desbaratar os recursos. Para além disso, se os funcionários públicos têm direito a 35 horas semanais, os jogadores da seleção também podiam ficar pelos serviços mínimos.

O nosso grupo era de caras. Mas decidimos empatar com a Islândia, para parecermos fracos e para moralizar os islandeses, que poderiam vir a ser úteis. A prova é que eles eliminaram a Inglaterra. Decidimos empatar com a Áustria (Ronaldo falhou o penalty de propósito) e só falhámos com a Hungria: era para ganhar 1-0, mas Fernando Santos tinha feito as contas e sabia que o empate chegaria.

Depois, continuamos a fazer-nos de fracos e eliminámos a Croácia, no prolongamento, e a Polónia, nos penalties. Nas meias-finais, havia que descansar para a final, pelo que, despachámos o País de Gales, facilmente. A Europa do futebol ria da nossa equipa. O plano corria na perfeição.

Na final, vinha a França. Sempre que tentámos afirmar a nossa superioridade sobre os gauleses, a coisa correu mal. Tinha que ser à rasquinha. Primeiro passo: Ronaldo simular uma lesão na primeira parte, sair do jogo e, com isso, espicaçar os jogadores portugueses e deixar os franceses sem saberem quem marcar.

Infelizmente, lesionaram-no mesmo, mas o plano mantinha-se. Por respeito a quem pagou um balúrdio pelo bilhete para a final, decidimos não ganhar nos 90 minutos e oferecemos mais meia hora de futebol. A entrada de Éder também tinha um propósito. Os franceses iam rir-se dele, como muitos portugeses se riram. O cenário perfeito para Éder fazer o que fez: tranquilamente resolver o jogo.

E assim ganhámos o Euro: fortíssimos, mas disfarçados de fracos. Prova disso? A citação bíblica a que Fernando Santos recorreu no final do jogo, falando aos jornalistas: "Prudentes como as serpentes mas simples como as pombas".

É impossível não gostar de Fernando Santos: o casaco do fato assenta-lhe mal, o que o torna parecido com aquele tio que já está meio descomposto nos casamentos.

Devido a este sucesso, António Costa já decidiu adoptar a estratégia para as cimeiras de Bruxelas: em vez de dizer que vamos cumprir as metas, vai dizer que "vamos ver se dá".

PS: enquanto escrevia este texto, a minha namorada sugeriu dois ou três tópicos. A magia da selecção é esta: somos todos especialistas.

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