A cara da pobreza às portas dos Jogos Olímpicos

Muitos adornam as paredes dos quartos com páginas de revistas. Esta refere a um perfume chamado
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Muitos adornam as paredes dos quartos com páginas de revistas. Esta refere a um perfume chamado

Às portas da realização do maior evento desportivo mundial no Rio de Janeiro, os Jogos Olímpicos, as assimetrias sociais assumem novas proporções e relevo. Ao mesmo tempo que o estado brasileiro investe 10,2 mil milhões de euros na construção de infraestruturas desportivas, milhares de cidadãos brasileiros vivem sem acesso a condições básicas de habitação. Os quinze dípticos fotográficos realizados por Sebastian Palmer integram uma série intitulada "Hope", que faz o retrato de pessoas que vivem num edifício ocupado ilegalmente, no coração de São Paulo, em condições de extrema precariedade. "Chegam de outras regiões do Brasil com pouco ou nenhum dinheiro no bolso, sem grandes competências e muito baixa literacia. Normalmente não conseguem suportar uma renda e a maioria não consegue sequer arranjar um emprego." "Aqueles que sim, conseguem", refere o fotógrafo, "são mal remunerados e trabalham sete dias por semana apenas para conseguir sobreviver". Em todos, no entanto, Palmer encontrou esperança, algo que os liga ao futuro. Os dípticos revelam o que os mantém vivos. O fotógrafo viveu com as cinquenta e três famílias que ocupam o edifício durante três semanas. "Dormi e comi com eles diariamente. As condições eram muito duras. Não havia electricidade ou água canalizada.  avia apenas uma casa de banho para toda a gente; tomar um duche era caótico. O mesmo se passava com a cozinha. Havia apenas uma. Os almoços e jantares eram comunitários. Apenas alguns residentes tinham acesso à cozinha, mas cozinhavam para todos aqueles que contribuíam com dinheiro para os alimentos." A segregação destas famílias é evidente, no contexto da sociedade brasileira. "Existe, para o mundo 'exterior', uma ideia de que as pessoas que vivem nos edifícios ocupados roubam, traficam droga e são seres humanos desprezíveis. No que toca a minha experiência, isto não podia estar mais longe da realidade. Especificamente no edifício que fotografei, existiam regras muito rígidas. Ninguém alcoolizado ou intoxicado podia entrar no edifício. Podia fazê-lo apenas em estado de sobriedade. A maioria das pessoas que viviam ali eram trabalhadores: cozinheiros, esteticistas, empregados de limpeza, até um professor." Para Palmer, a conclusão tornou-se muito clara: "quanto mais pobre és mais invisível te tornas". É no sentido de devolver a presença a estes grupos minoritários que o fotógrafo desenvolve os seus projectos fotográficos. "Eles existem, é necessário mostrar que existem. Precisam de dignidade e de ser vistos." Ana Marques Maia

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