Horas antes dos tiros em Dalas, Beyoncé tinha pedido: “Parem de nos matar”

No concerto da noite de quinta-feira na Europa, dezenas de nomes de vítimas de violência policial estiveram em palco.

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Mario Anzuoni/REUTERS

As mortes de Alton Sterling e de Philando Castle criaram uma nova onda de apelos públicos sobre as práticas policiais para com os afroamericanos, até que os protestos pacíficos em Dalas foram interrompidos por atiradores furtivos que mataram pelo menos cinco polícias – horas antes, uma das vozes mais audíveis da cena artística mundial, Beyoncé, tinha escrito uma carta aberta em que pedia “parem de nos matar”. No seu concerto em Glasgow na noite de quinta-feira, os nomes de muitas vítimas passaram no palco de Beyoncé ao som de Freedom.

Depois da carta aberta de Drake, publicada na sua conta de Instagram, dos apelos de políticos como Bernie Sanders ou do actor Jessie Williams, outros músicos como Justin Timberlake ou a comediante Amy Schumer falaram nos últimos dias. Lamentaram os casos recorrentes do que parecem ser actos desproporcionados de reacção policial que terminam com a morte de afroamericanos, ou mostraram a sua solidariedade com as cidades, as famílias ou os estados das vítimas – Alton Sterling foi morto a tiro na terça-feira depois de ter sido manietado por dois polícias; Philando Castile foi atingido quarta-feira com vários tiros no interior seu carro, parado numa operação stop no Minnesota. Ambos os casos foram registados em vídeos que começaram a circular na Internet.

Horas antes da crise em curso à hora de publicação desta notícia, em que cinco polícias do Texas morreram quando snipers montaram uma emboscada em Dalas contra a violência policial, Beyoncé dava sequência ao que o seu vídeo Formation e a sua actuação no Super Bowl tinha encetado em Fevereiro. No seu site, a mensagem de abertura ocupa toda a página.

“Estamos fartos das mortes de jovens homens e mulheres nas nossas comunidades. Depende de nós tomar uma posição e exigir que eles ‘parem de nos matar’”, escreve a superestrela musical, a entertainer mais poderosa da lista Power Women da revista Forbes em 2015, exigindo “respeito” pelas suas vidas. A cantora preconiza: “Vamos erguer-nos como comunidade e lutar contra qualquer pessoa que acredite que o homicídio ou qualquer acto violento cometido por aqueles que juraram proteger-nos deve continuar sem ser punido de forma regular. Estes roubos das nossas vidas fazem-nos sentir desamparados e sem esperança, mas temos que acreditar que estamos a lutar pelos direitos da geração seguinte, pelos próximos rapazes e raparigas que acreditam no bem”.

Frisando que é contra actos violentos, Beyoncé remata que “o ódio não vencerá”, que “o medo não é desculpa” e que todos podem “canalizar” a sua “raiva e frustração em actos”. “Temos de usar as nossas vozes e contactar os políticos e os legisladores nos nossos distritos e exigir mudança social e judicial”.

O site direcciona depois os utilizadores para os congressistas e representantes locais que podem ser contactados. E mostra imagens do concerto da noite de quinta-feira em Glasgow, por onde passa a digressão da cantora, em que a coreografia envolveu água, pés descalços e bailarinas, e Beyoncé a dançar frente a um ecrã onde estavam listados os nomes de Sterling e Castle à cabeça de dezenas de outros de homens e mulheres que terão sido vitimados por tiros das autoridades nos últimos meses.

Entretanto, também Jay Z, outra megaestrela da indústria musical, lançou um novo tema em que se refere aos casos de tiros fatais sobre suspeitos afroamericanos - Spiritual foi lançada no seu serviço musical, o Tidal, e a letra versa sobre mãos no ar e pedidos de "não dispare". Yeah, I am not poison, no I am not poison / Just a boy from the hood that / Got my hands in the air / In despair, don’t shoot / I just wanna do good, ah, canta. Jay Z (casado com Beyoncé) explica que a música estava pronta há cerca de um ano. "Nunca cheguei a acabá-la. Punch [Terrence Henderson, o co-president da sua editora, a Top Dawg Entertainment] disse-me que devia lançá-lo quando Mike Brown morreu, e tristemente eu disse-lhe 'Este tema será sempre relevante". Magoa-me que soubesse que esta morte não seria a única. Estou triste e desiludido com ESTA América - devíamos estar mais à frente", escreve o rapper e produtor.   

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