Obras em Lisboa: balanço "bastante positivo" da câmara, críticas da oposição

A autarquia é acusada de estar a apressar obras a pensar no calendário eleitoral.

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Obras prolongam-se até o início de 2017 Nuno Ferreira Santos

Dois meses depois do início das obras no “Eixo Central”, a Câmara Municipal de Lisboa faz um balanço “bastante positivo” à intervenção e estende os elogios às restantes obras em curso na capital, que, no seu conjunto só deverão terminar no próximo ano. A reflexão chega antes do início das obras na Segunda Circular, que segundo a Câmara de Lisboa deverá acontecer esta semana. Com o início dos trabalhos na Segunda Circular, passando por 37 obras de repavimentações, atravessando o Eixo Central e chegando à frente ribeirinha, Lisboa é uma casa em arrumações. 

“As pessoas já sentem que há uma melhoria significativa na qualidade dos pavimentos, das ruas”, acredita o vereador do Urbanismo da câmara de Lisboa, Manuel Salgado, em declarações à agência Lusa. Para Salgado, os lisboetas estavam aterrorizados com o Eixo Central, mas o impacto foi "bem menor do que aquilo que as pessoas temiam". Na altura do início das obras, o presidente da Câmara, Fernando Medina, afirmava ao PÚBLICO que o trânsito estaria regulado no final da primeira semana de intervenção. No entanto, oito semanas depois do início dos trabalhos as queixas persistem.

Entre as vozes mais críticas da oposição está o vereador do CDS João Gonçalves Pereira, que desde o início dos trabalhos condena "a falta de organização da autarquia", tendo marcado presença no buzinão de protesto contra os trabalhos de intervenção no Eixo CentralÉ o mesmo vereador que agora repete as críticas e questiona a agenda da câmara de Lisboa. “Isso é feito em nome de um calendário eleitoral e em prejuízo daquilo que é o dia-a-dia dos lisboetas", considera.

O vereador elogiou a “grande evolução e em benefício da cidade” ao nível do estacionamento, mas considera que as intervenções são precipitadas. “As consequências serão visíveis no momento em que a obra encerrar", avisa.

Também o PDS afirmou que se cometeu um "erro de estratégia". António Prôa, vereador do PSD, afirma que a autarquia "optou por fazer obras cosméticas na cidade, obras rápidas, que prevê terminar rapidamente, e que vão tornar algumas zonas da cidade mais bonitas", mas que "não vão resolver os problemas de circulação". Tal como o CDS, o PSD acusa o planeamento das obras, destacando que todas as obras ocorrem em simultâneo "entupindo a cidade". "Isso não se faz, em termos de planeamento é uma irresponsabilidade e é de um egoísmo", acrescenta. Prôa acusa ainda o presidente da câmara de Lisboa de procurar com as obras "benefícios eleitorais" para as eleições autárquicas de 2017. 

Já Carlos Moura, vereador do PCP, é mais moderado nas críticas."Pode ser considerado eleitoralista, mas havia a necessidade, isso não é discutível", diz.

Também a Federação das Associações de Moradores da Área Metropolitana de Lisboa se queixa de que a "Câmara não tem ouvido as pessoas" e antecipa riscos de atraso nas obras. Opinião diferente tem a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta que vê "com agrado" as intervenções. José Manuel Caetano não sabe “se são feitas à pressa, se são feitas com intenções políticas”, mas destaca o essencial: “quero é que elas se façam".

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Câmara diz que os comentários às intervenções são geralmente positivos Nuno Ferreira Santos

O vereador do Urbanismo responde às críticas argumentando que a sobreposição das datas se deve ao à duração dos processos ligados às intervenções que ocupam a duração de um ciclo político. 

“Basta pensar o seguinte: o mandato são quatro anos. Entre decidir fazer, encomendar projectos, realizar projectos, rever projectos, lançar empreitadas de hasta pública gastam-se à vontade dois anos. E depois ficam dois anos, um ano e meio para executar as obras", justifica Manuel Salgado, em declarações à agência Lusa.

Salgado afasta a tese de “oportunismo eleitoral” de que o executivo é acusado pela oposição e responde que a autarquia se está a limitar a “cumprir o programa”. O vereador destaca ainda que existam obras previstas que não serão concluídas, aludindo à requalificação da Praça da Figueira, da Praça de Espanha e do Largo do Rato, que prevêem o reordenamento do trânsito e mais espaço para os peões, mas só acontecerão no próximo mandato.

Já os problemas que advêm das obras são naturais, considera. "Qualquer um de nós, quando faz obras em sua casa, sabe que há ali um período em que há poeira, há barulho, em que se calhar tem de se chegar para um quarto e prescindir da sala porque estão a fazer obras. E há casos mesmo em que tem de sair de casa", exemplificou o autarca.

O vereador elogiou o papel “absolutamente chave" da Polícia Municipal, “na ajuda aos automobilistas, orientando o trânsito, fazendo fluir o trânsito". O vereador sublinhou ainda o apoio da Direcção Municipal de Projectos e Obras “uma divisão que só faz coordenação, que se articula com os autores dos projectos” e com gestores de cada obra para registar dificuldades e impactos.

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