Não vamos virar costas à Europa

Sempre fomos uma nação empenhada a nível global. Portugal também. Nada disto irá mudar.

No dia 23 de Junho, o povo britânico votou pela saída da União Europeia. Cerca de 30 milhões de pessoas, 72% do eleitorado,  foram votar, enfrentando em alguns locais chuvas torrenciais e cheias, num dos maiores exercícios de democracia da nossa história. Consideramos ter sido correcto deixar o povo decidir numa questão desta magnitude.

Vai demorar algum tempo até serem conhecidas em pormenor as implicações desta decisão. O processo de implementação desta decisão democrática não será simples, nem fácil. Mas estamos preparados para enfrentar o que o futuro nos reserva numa posição de força.

Porque a economia britânica é hoje uma das mais fortes e mais avançadas do mundo. O crescimento tem sido robusto nos últimos anos, a taxa de emprego é a mais alta de sempre e os  requisitos de capital para os maiores bancos são hoje dez vezes superiores quando comparados com o período anterior à crise bancária. O défice orçamental foi reduzido de 11% do rendimento nacional, e irá ser inferior a 3% este ano, de acordo com as previsões.  Posso afirmar com satisfação – em particular aos nossos investidores portugueses –  que a economia britânica está fundamentalmente forte, é altamente competitiva e continua “open for business” – como dizemos em Inglês.

Nos últimos dias têm-me perguntado quais serão as implicações desta decisão para os portugueses a residir e a trabalhar  no Reino Unido ou para quem pretende ir lá de férias ou em trabalho. Posso assegurar que, por enquanto, nada se altera. Os portugueses podem continuar a viver e a trabalhar no Reino Unido exactamente da mesma forma como faziam até aqui. Têm o mesmo nível de acesso ao Serviço Nacional de Saúde e a outros serviços sociais. Continua a ser possível viajar livremente entre Portugal e Reino Unido. O mesmo se aplica aos britânicos a residir em Portugal: o seu estatuto não sofre nenhuma alteração no imediato.

Muitos terão visto notícias sobre o aumento do número de incidentes relacionados com racismo e xenofobia que têm ocorrido no Reino Unido desde o resultado do referendo. O nosso Primeiro-Ministro classificou estes incidentes como “desprezíveis” e afirmou que este tipo de ataques (embora sendo episódios isolados) não serão tolerados e não representam o nosso país. Somos o  Reino Unido por causa da imigração, não apesar dela.  Temos orgulho em ser uma sociedade multirreligiosa e multi-étnica e assim iremos permanecer.

O Reino Unido vai deixar a União Europeia, mas não vai virar as costas à Europa. Nem ao resto do mundo. O Reino Unido continua a ser um dos principais membros da NATO, do G7 e do G20, membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a 5ª maior economia do mundo. Somos uma grande nação comercial e o nosso contributo para a ciência e as artes, a nossa criatividade e a nossa engenharia são respeitadas por todo o mundo.

A Portugal estamos unidos por uma aliança histórica que já dura há cerca de setecentos anos – a mais antiga no mundo – e que irá perdurar para além da nossa saída da UE.  Fiquei muito sensibilizada pelas palavras do Presidente Rebelo de Sousa e do Primeiro-Ministro António Costa  assegurando que Portugal manterá uma abordagem construtiva nas negociações que irão decorrer nos próximos tempos.

Sempre fomos uma nação empenhada a nível global. Portugal também. Nada disto irá mudar.

Embaixadora do Reino Unido em Portugal

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