Morreu antigo primeiro-ministro francês Michel Rocard

“Uma grande figura da República e da esquerda acabou de desaparecer”, reagiu o Presidente francês, François Hollande.

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Na sua longa carreira política, Rocard manteve uma uma "longa incompreensão" com Mitterrand Charles Platiau/AFP

Michel Rocard, antigo primeiro-ministro e um dos históricos dirigentes socialistas franceses do pós-guerra, morreu neste sábado, aos 85 anos. “Uma grande figura da República e da esquerda acabou de desaparecer”, reagiu o Presidente francês, François Hollande.

Activista estudantil, opositor da guerra na Argélia, militante e dirigente de movimentos que viriam a desembocar no Partido Socialista Francês, Rocard foi ministro e depois primeiro-ministro (1988-91) durante os mandatos do Presidente François Mitterrand, personalidade com quem rivalizou durante toda a vida e com quem manteve uma “longa incompreensão”, escreveu neste sábado o jornal Le Monde.

Europeísta convicto e durante anos um dos políticos mais populares de França, Rocard é descrito como um dos promotores, dentro do PS francês, da corrente social-democrata – em 1979, quando Mitterrand defendia uma “ruptura contra o capitalismo”, ele liderava dentro do secretariado-nacional a oposição ao líder socialista.

“Vindo da extrema-esquerda, passou directamente para a ‘direita’ do PS ao incarnar uma ‘segunda-esquerda’, muitas vezes de origem cristã, mais descentralizadora, que prefere a busca de consenso ao confronto, a autonomia da sociedade civil ao monopólio do Estado”, escreveu o Le Monde. A passagem pelo Matignon, no início do segundo mandato de Mitterrand, fica marcada pela abertura à sociedade civil, mas também pela introdução do Rendimento Mínimo de Inserção (RMI), uma política social que seria depois imitada por outros governos da esquerda europeia, recorda a Reuters.

A relação tensa com Mitterrand nunca foi segredo – em 1991, o Presidente demorou breves minutos a demiti-lo – e teria um capítulo final em 1998, três anos depois da morte do antigo chefe de Estado, a quem Rocard chamou “desonesto”, lembra a BBC. Num dos milhares de artigos que escreveu para a imprensa, acusou Mitterrand de liderar uma “clique” no Governo, escrevendo que só aceitou ser primeiro-ministro para “proteger França”.

Também nunca foi segredo que o antigo primeiro-ministro, nascido em 1930 nos arredores de Paris e filho de um famoso cientista, Yves Rocard, ambicionou sempre o Eliseu  – um lugar que, malgrado a sua popularidade e intelecto lhe fugiu repetidas vezes. Na primeira vez que o tentou, em 1969, ainda como candidato do Partido Socialista Unificado, conseguiu pouco mais de 3% dos votos; em 1980 chegou a anunciar a intenção de concorrer pelo PS, mas o lugar foi tomado por Mitterrand, então secretário-geral socialista.

“Sonhou com um destino presidencial que nunca aconteceu. Mas tem hoje, no Partido Socialista, nos ministérios e nos think-tanks de esquerda que sonham refundá-la, inúmeros discípulos”, escreve o Le Monde no seu obituário.

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