Colômbia: a paz merecida

Esperemos que a próxima Cimeira Ibero-Americana seja um pretexto para Portugal e a Colômbia se aproximarem.

Na dia 23 de Junho o Governo colombiano e as FARC assinaram um histórico acordo de paz que poe fim a 50 anos de guerrilha, de insegurança e de uma desconfiança entre irmãos. Que exemplo inspirador para o mundo este aperto de mãos que abre uma nova etapa no desenvolvimento da Colômbia.

Tive o prazer e a honra inédita de ser o representante do Governo português na primeira tomada de posse do Presidente Juan Manuel Santos, em agosto de 2010. Era então Secretário de Estado da Saúde e estava empenhado em recrutar 120 médicos colombianos para os centros de saúde do nosso país (o que foi conseguido com sucesso).

A primeira vez que aterrei em Bogotá tinha apenas a ideia (errada) de um país marcado pelo narcotráfico. Ignorante só conhecia Gabriel Garcia Marques, Botero, Shakira e uns jogadores do FC Porto. O que lá encontrei foi para mim o país mais surpreendente que conheci nos últimos 20 anos. A Colômbia é um país enorme (equivalente ao território de Portugal, Espanha e França), com quase 50 milhões de habitantes, com uma economia em desenvolvimento (e não só no sector primário – o conhecidíssimo café, o carvão, as flores – mas também no têxtil e vestuário, químicos, etc), com estabilidade política, com boa formação académica, com um rendimento per capita na ordem dos 14.000 dólares, com excelentes níveis no indíce do Doing Business, com boas estruturas urbanas e condições naturais deslumbrantes.

Claro que a Colômbia também tem problemas e fragilidades, da dependência actual dos hidrocarbonetos às desigualdades sociais, mas um país que vence a guerra mostra-se forte para derrotar outras adversidades. Aliás, hoje, mais do que nunca, a Colômbia deverá aproveitar para promover um rebrand internacional para adequar a imagem às qualidades e potencial do país, ultrapassando finalmente os estigmas de outros tempos.

Na quinta-feira passada foi um dia feliz na Colômbia, com muitas lágrimas na rua a levar décadas de sofrimento e medos. A Colômbia e os colombianos merecem ser felizes. E merecem ser (mais) descobertos por Portugal porque há muitas áreas em que podemos aprofundar as relações: da cultura à moda, da energia às infraestruturas, da distribuição aos bens e cuidados de saúde.

Esperemos que a próxima Cimeira Ibero-Americana, que se realizará em Cartagena das Índias, seja um pretexto para Portugal e a Colômbia se aproximarem.

Economista, Ex-Secretário de Estado da Saúde

 

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