Governo rejeita acabar com apresentação quinzenal de desempregados

Proposta tinha sido feita pelo BE em Janeiro e, em Abril, ministro do Trabalho disse que ia avaliar. Subsídio para desempregados de longa duração atrasado.

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Desde 2006, os desempregados estão sujeitos a um controlo quinzenal Fernando Veludo/NFACTOS

O Governo não vai acabar com a apresentação quinzenal dos desempregados nos centros de emprego, uma proposta que tinha sido feita pelo Bloco de Esquerda em Janeiro e que o ministro do Trabalho prometeu avaliar. "O Governo não está disponível para abdicar de mecanismos de controlo efectivo dos desempregados", afirmou nesta quarta-feira o secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, citado pela Lusa.

O governante acrescentou que as mudanças em curso vão no sentido de reforçar o acompanhamento das pessoas que se deslocam aos centros de emprego quinzenalmente, "para que haja um maior equilíbrio entre a vertente de controlo e a procura efectiva de emprego".

A questão foi colocada pelo deputado do PS, Rui Riso, durante uma audição na comissão parlamentar do Trabalho e da Segurança Social, pedindo ao Governo para clarificar a sua posição quanto à proposta bloquista.

O projecto de Lei do BE, apresentado em Janeiro, propunha a revogação do artigo 17º do Decreto-Lei 220/2006 que obriga os beneficiários das prestações de desemprego a deslocarem-se de quinze em quinze dias aos centros de emprego, aos serviços de segurança social ou a outras entidades definidas pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Sugeria ainda eliminar as normas que reforçam que este é um dever dos desempregados e que o seu incumprimento leva à anulação da inscrição no centro de emprego e ao consequente corte do subsídio.

O BE considerava, no preâmbulo da sua proposta, que esta obrigação enquadra-se numa lógica de “culpabilização e de suspeição sobre os desempregados” e lembrava que eles "têm de suportar sozinhos as despesas de transporte e deslocações” para cumprirem esta obrigação.

O incumprimento do dever de apresentação quinzenal foi a segunda principal causa das 2528 anulações de inscrições nos centros de emprego (e com a consequente perda do subsídio) em 2015. De acordo com os dados oficiais, 61% das anulações estavam relacionadas com a falta de comparência às convocatórias dos centros de emprego e 22% com a ausência aos controlos quinzenais obrigatórios.

Em Abril, o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, foi questionado pelo deputado do BE, José Soeiro, sobre se estaria disponível para aprovar a alteração, tendo manifestado abertura para encontrar alternativas, desde que os objectivos do subsídio de desemprego não fossem postos em causa. Agora, o secretário de Estado encerrar o assunto, ao assumir que não há abertura para revogar essa obrigação e que as mudanças não no sentido de tornar as apresentações quinzenais mais eficazes.

Subsídio para desempregados de longa duração não está a ser pago

O ministro e os secretários de Estado foram chamados ao Parlamento nesta quarta-feira para esclarecerem a ameaça de  despedimento colectivo que pendia sobre os estivadores do Porto de Lisboa e que acabou por não se concretizar. Contudo, os governantes acabaram por ser confrontados com outros temas.

Durante a audição parlamentar, a secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, reconheceu que o novo apoio aos desempregados de longa duração ainda não está a ser atribuído, por causa do desenvolvimento do sistema informático associado a esta prestação.

Cláudia Joaquim anunciou que 1528 pessoas já requereram a nova prestação e que, até ao final do mês, serão notificados um total de 6800 potenciais beneficiários. A responsável espera que os primeiros requerimentos possam ser aprovados em Julho, para que o apoio seja pago em Agosto.

"A aplicação informática estará concluída no mês de julho e no máximo no mês de Agosto teremos o pagamento dos requerimentos entrados que tenham uma decisão positiva", disse Cláudia Joaquim em resposta a uma questão levantada pelo deputado do CDS-PP Filipe Lobo D´Ávila.

A governante explicou que, "em cada mês, são identificados os beneficiários que há um ano cessaram" o subsídio social de desemprego. Se na convocatória é verificado que "os ex-beneficiários têm um vínculo com a Segurança Social e estão a trabalhar, o ofício não é remetido", adiantou.

Avaliação dos apoios ao emprego na concertação

O apoio aos desempregados é, precisamente, um dos temas que vai estar em cima da mesa nesta quinta-feira na reunião da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS). O Governo vai apresentar um estudo preliminar sobre as políticas activas desenvolvidas pelo IEFP, para avaliar quais são as mais eficazes do ponto de vista da transição dos desempregados para o mercado de trabalho.

O objectivo final, disse em meados de Maio o secretário de Estado Miguel Cabrita, é que essas políticas "não contribuam para reforçar tendências de precarização do mercado de trabalho e não se substituam às dinâmicas de contratação das empresas".

Em causa estão medidas como os estágios, os apoios à contratação de desempregados ou os polémicos contratos emprego inserção. No final de Abril, o número de desempregados alvo de uma resposta por parte do IEFP ascendeu a 244.440, menos 35,5% do que em Abril do ano passado. Mais de 83% foram integrados em medidas activas de emprego e os restantes colocados no mercado de trabalho.

Na reunião com os parceiros sociais será também fixada a metodologia para se iniciar a discussão sobre a regulação do mercado de trabalho, o combate à precariedade e promoção da negociação colectiva.

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