A águia-pesqueira voltou a nascer em Portugal

Depois de cinco anos do início do projecto de reintrodução da águia-pesqueira em Portugal, nasceram finalmente duas crias da ameaçada espécie na zona de Alqueva.

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“Agora é esperar que tudo corra bem.” Esta é a reacção de Luís Palma, coordenador técnico-científico do projecto de reintrodução de águia-pesqueira em Portugal, ao nascimento de duas crias em Alqueva. Duas aves desta espécie tinham sido libertadas em 2012, o macho em Alqueva e a fêmea nas Marismas del Odiel, em Espanha, através de um projecto semelhante na Andaluzia. Finalmente, o esforço deu frutos.

Tudo começou em 2011, quando se iniciou um projecto de reintrodução da águia-pesqueira na zona da albufeira de Alqueva, desenvolvido pelo CIBIO-InBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos com o apoio da EDP. Ao todo, foram transferidas 56 aves juvenis da Suécia e da Finlândia para a região alentejana. Houve um período de aclimatação, muitas migraram, algumas nidificaram, quer no interior quer no litoral, e surgem agora as primeiras crias.

O habitat em que se reproduziram, em Alqueva, ajudou. “A barragem tem várias árvores que morreram com o alagamento mas ficaram de fora de água. Essas árvores secas são muito atractivas para as aves construírem ninhos”, aponta Luís Palma. E foi numa destas árvores que o casal fez o ninho.

Os recentes pais nasceram em 2012. O macho tem origem finlandesa e foi, ainda juvenil, reintroduzido em Alqueva. A fêmea nasceu na Alemanha e foi transferida para Marismas del Odiel em Espanha. “Depois, as aves dispersaram para África e, após três anos, já na maturidade, voltaram”, conta Luis Palma. Ao PÚBLICO, o coordenador do projecto explicou que este era o objectivo: a reprodução das aves nos locais onde foram libertadas.  

A esperança do coordenador do projecto é que “sobrevivam até ao fim” das suas vidas. Luís Palma salienta que há sempre problemas e acidentes a ocorrer e dá o exemplo das nove aves transferidas que morreram, três por acidente, duas por patologias e quatro por predação.

A espécie voltou a nidificar em Portugal há um ano, década e meia depois de ter morrido o último exemplar nidificante. As primeiras nidificações potenciadas por este projecto ocorreram na albufeira do Alqueva, llocal esoclhido por um dos juvenis, e na Costa Vicentina, onde hoje estão dois ninhos habitados.

Luís Palma diz que este é apenas “um primeiro passo”. “O sucesso é tornar isto sustentável”, afirma, sem dúvidas. Espera também que o casal que se reproduziu seja um “polo de atracção” para outras aves para que se efectue a expansão da espécie. “As recolonizações, normalmente, ocorrem desta forma. Há uma fase em que se desenvolve um núcleo, que posteriormente serve de motivação para outros animais.”

Terminado o processo de reintrodução, a EDP, financiadora da primeira fase, irá continuar a patrocinar o projecto por mais três anos, financiando, além da sua divulgação, as acções necessárias para restaurar o habitat desta espécie. A águia- pesqueira reproduz-se em diferentes tipos de habitat, desde a costa rochosa a estuários e barragens. “As condições naturais de nidificação são escassas pelo que tentamos criar estruturas que tornem os locais atractivos para se reproduzirem”, acrescenta o coordenador. 

De acordo com Luís Palma, “há todas as possibilidades que a ave volte” a nidificar no país, sobretudo em habitats “bem preservados, ou pelo menos, que não estejam destruídos”. A costa portuguesa, como a vicentina e a de Sesimbra, tem condições para que o regresso de uma ave, também conhecida por guincho, seja possível.

A espécie habitava a costa portuguesa desde o século XIV e influenciou a poesia, a literatura ou nomes de locais, como a praia do Guincho, sendo que a população nativa se extinguiu em 2002, na costa vicentina.  

Texto editado por Ana Fernandes

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