O “excepcionalmente comum” no Festival Materiais Diversos

O festival de artes performativas está de regresso para a oitava edição, entre 15 e 24 de Setembro em Minde e não só.

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Family Affair explora a transmissão de valores de família perante a distância de gerações Zimmer Frei
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Colecção de Amantes, de Raquel André, explora o encontro através da fotografia Tiago de Jesus Brás

Pôr a arte em diálogo com as características de uma região é o objectivo do festival de artes performativas Materiais Diversos, em Minde, que está de volta para a oitava edição entre 15 e 24 de Setembro. O festival tem este ano como tema o “excepcionalmente comum” e estende os seus palcos a Alcanena e Torres Novas.

Foi tendo por base as ideias de que “a arte é intrínseca à vida humana” e de que “a criação artística vai além do mercado” que Elisabete Paiva aceitou ser directora artística do festival criado e dirigido até 2014 por Tiago Guedes – actual director do Teatro Municipal do Porto. Nascido em Minde em 2009, o Materiais Diversos pretende sensibilizar a população local para as artes performativas. “Queremos proporcionar um olhar diagonal num país centralizado também culturalmente”, disse Elisabete Paiva na apresentação do festival à imprensa, esta segunda-feira, no Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde.

O Materiais Diversos dirige-se a um público transversal, que inclui desde famílias inteiras a grupos de jovens. Recorda Elisabete Paiva que, no ano passado, uma programadora espanhola presente caracterizou o público como “real”. Essa é parte da identidade do festival, que não quer apenas um contacto com meros espectadores, mas antes “dar informação às pessoas para que se tornem críticas”. Além disso, o festival pretende promover a integração dos habitantes – este ano já foram contratados quatro jovens locais para assistência de produção. “Queremos focar-nos nas comunidades que se estão a definir e no que desejamos delas”, explicou Elisabete Paiva. A programação de dança, teatro e música pretende jogar com as dimensões local, nacional e internacional do festival.

Os espectáculos do Materiais Diversos põem as artes em confronto entre si e incidem sobre a sua relação com o ser humano. É o caso de Bandorganismo – Dança para Músicos, da coreógrafa Clara Andermatt, com a Banda Filarmónica da Sociedade Musical Mindense, que abre o festival no dia 15 de Setembro e “é um grande desafio para os músicos, que normalmente não dançam”.

No dia 16 de Setembro, o espectáculo da encenadora e actriz Raquel André, Colecção de Amantes, parte da marcação de encontros com desconhecidos para, durante uma hora, tentar criar intimidade suficiente que resulte numa fotografia. Num segundo momento, Raquel recorda os encontros através da performance com as fotografias. “É, no fundo, coleccionar o efémero e questionar a fotografia como ponto de encontro entre as pessoas”, diz Raquel André.

O colectivo de artistas italiano Zimmer Frei apresenta, nos dias 17 e 18, Family Affairs, que está a percorrer a Europa e escolheu Portugal como o quinto de oito países. É uma “antítese das famílias tradicionais”, como explica Anna de Manincor, da companhia, e vai pôr em palco famílias sem experiência artística. “Todos somos especialistas na nossa própria família”, comenta. Este será um momento de diálogo entre as linguagens artísticas que assenta na dessincronização entre som e imagem.

Além destes e de outros espectáculos, o festival Materiais Diversos promove uma escola artística de Verão, a Comunidade Artística Emergente, dirigida a estudantes, artistas e investigadores, que vai acolher dois laboratórios de criação, com o coreógrafo brasileiro Marcelo Evelin e o grupo Sintoma, e uma mesa redonda que visa discutir a formação de artistas na actualidade, a relação entre linguagens e a colaboração entre escolas superiores artísticas. Haverá ainda aulas teóricas ou práticas todos os dias, e sessões de DJ promovidas em colaboração com o festival Bons Sons.

A partilha de desejos e problemas comuns só é possível devido ao encontro artístico e esse sentimento já passa para a população. “As pessoas já têm essa autoconfiança de exercer o pensamento e fazer perguntas no fim das actuações”, conta Elisabete Paiva. É o que se espera para a próxima edição do festival – que a “inspiração” e a “contaminação” sejam o motor de todas as possibilidades.

Texto editado por Isabel Coutinho

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