A tradição dos tascos homenageada em fotografia

Dar a conhecer e preservar os tascos do Porto é o que propõe o Mira Forum. O espaço cultural vai homenagear, até dia 30 de Julho, os tascos portuenses

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Manuela Matos Monteiro

É no número 155 da rua de Miraflor, em Campanhã, que se encontra o Mira Forum. Até 30 de Junho, o espaço cultural celebra os tascos do Porto e o Grupo dos Amigos das Adegas e Tascos do Porto (GAATP). A iniciativa, explica Manuela Matos Monteiro, directora do Mira, surge “para chamar à atenção da importância destes lugares e eventualmente salvar alguns do seu próprio desaparecimento”.

A exposição física, composta por mais de 40 fotografias impressas todas a preto e branco, retratam o ambiente dos tascos. O preto e branco não é por acaso, “surge para transmitir uma certa nostalgia daquilo que se está a perder”. Paralelamente, terá duas projecções no Mira Forum: uma apresenta os eventos que a GAATP tem produzido ao longo do tempo, e a outra exibe 200 fotografias de pormenores que vão desde a comida tradicional: bolinhos de bacalhau, buxo, morcela ou vinho, passando pelos pormenores decorativos, como o Santo António, o São João, Nossa Senhora de Fátima, os cachecóis dos clubes, a banca e o balcão de mármore. Elementos que caracterizam estas casas “icónicas da nossa cidade”.

Os fotógrafos não foram escolhidos pela qualidade da fotografia, mas sim por frequentarem estes espaços e porque lhes dão importância. “É, portanto, uma exposição muito marcada pelo lado afectivo, mais do que o lado técnico e estético”, revela Manuela Monteiro. Há fotografias de tascos com uma marca tradicional muito forte, como por exemplo a Adega de São Martinho na rua D. João V ou a Adega Alfredo Portista. Mas há também outros tascos que não têm um ar tão pitoresco, mas que são lugares frequentados pelas pessoas. “Nesse sentido esta exposição é muito eclética, não elegemos qual é o melhor tasco, mas sim aquele que está vivo, e que sensibilizou as pessoas que o fotografaram” comenta.

Os tascos surgem na altura da industrialização no Porto e com o aparecimento das ilhas. Assumiam-se como um lugar onde, fundamentalmente, os homens bebiam e conviviam. As mulheres, que geriam o dinheiro em casa, achavam que os homens se perdiam nos tascos e derretiam o dinheiro no vinho e na batota. “É verdade que havia esta componente, mas também é verdade que os tascos eram lugares em que se construíam ligações solidárias através da criação das cruzadas de bem fazer. Era a partir dos tascos que as pessoas juntavam dinheiro e com ele, na altura do Natal, vestiam meninos de famílias carenciadas. Construindo assim, um movimento social e uma sensação de forte ligação entre a comunidade” conta Manuela.

A data de inauguração, neste sábado, dia 18, às 16 horas, não foi escolhida por acaso. A galeria quis associar a mostra à altura da festa de São João. “Todos os anos organizamos a festa aqui na rua com a Associação dos Malmequeres da Nôeda. Quisemos que a exposição dos tascos coincidisse com outras actividades que estão intimamente ligadas com a festa da cidade” explica Manuela Monteiro. O Mira Forum e o Espaço Mira são dois locais “situados na periferia da cidade, em que não é suposto haver arte”, mas que trazem a Campanhã uma “forte ligação à fotografia e à sua relação com outras artes e saberes”.

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