Antigo guarda nazi condenado a cinco anos de prisão pela morte de 170 mil pessoas

Reinhold Hanning, 94 anos, foi oficial das SS durante dois anos e meio em Auschwitz.

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Hanning vai recorrer da decisão Bernd Thissen/AFP

Um antigo guarda de Auschwitz foi condenado esta sexta-feira a cinco anos de prisão, na Alemanha, por uma juíza que o descreveu como um “solícito e eficiente executante” das atrocidades cometidas no campo de extermínio nazi durante a Segunda Guerra Mundial.

Reinhold Hanning, hoje com 94 anos, foi condenado por cumplicidade no extermínio de pelo menos 170 mil pessoas no campo construído na Polónia ocupada pelos nazis.

Rejeitando o argumento da defesa de que o antigo oficial das SS nunca matou nem espancou ninguém pessoalmente, a juíza Anke Grudda disse que Hanning escolheu cumprir serviço no campo de extermínio e ajudou a geri-lo.

“Não é verdade que você não teve escolha. Você podia ter pedido para ser transferido para a linha da frente na guerra”, disse a juíza durante a leitura da sentença.

Anke Grudda disse que é impossível que Reinhold Hanning não soubesse o que se passava em Auschwitz, já que esteve dois anos e meio no campo e foi promovido duas vezes durante esse tempo.

“Isso mostra que você mostrou o seu valor como um solícito e eficiente executante nos assassinatos”, disse a juíza alemã.

Vestido com fato e gravata cinzentos e sentado numa cadeira de rodas, Hanning ouviu a leitura da sentença sem reagir. O seu advogado, Johannes Salmen, anunciou que vai recorrer da sentença.

Ao longo do julgamento o tribunal ouviu 12 testemunhas que sobreviveram ao Holocausto nazi, muitos delas com idades bastante avançadas, mas que narraram pormenorizadamente experiências horríveis e recordaram as pilhas de corpos e o cheiro a carne queimada em Auschwitz.

“Estou agradecida e feliz por estar aqui neste momento, quando está a ser feita justiça ao fim de 70 anos”, disse uma dessas testemunhas, Hedy Bohm, de 88 anos, cujos pais foram mortos em Auschwitz.

“Talvez a minha mãe e o meu pai já possam descansar em paz. É um sonho que nunca esperei ver realizado”, disse Bohm aos jornalistas, com lágrimas nos olhos.

Várias organizações judaicas congratularam-se com a sentença anunciada esta sexta-feira. “O veredicto é bastante claro: [Hanning] foi cúmplice de um homicídio em massa. Fez parte de uma máquina de matar sem piedade”, disse Ronald Lauder, presidente do Congresso Mundial Judaico. “Sem a participação activa de pessoas como ele, Auschwitz não teria sido possível.”

Hanning manteve-se em silêncio durante grande parte do julgamento, mas falou no final de Abril, pedindo desculpa às vítimas e dizendo que estava arrependido de ter integrado uma “organização criminosa”.

“Tenho vergonha do facto de ter deixado acontecer uma injustiça de forma consciente e de nada ter feito para a impedir”, disse.

O antigo oficial das SS não foi acusado de envolvimento directo em nenhuma das mortes. Mas as acusações e dezenas de queixosos da Alemanha, Hungria, Israel, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos disseram que Hanning ajudou Auschwitz a funcionar.

O precedente para esta acusação foi estabelecido em 2011, quando o guarda de Auschwitz Ivan Demjanjuk foi condenado a cinco anos de prisão. No ano passado, Oskar Groening, conhecido como “o contabilista de Auschwitz”, foi condenado a quatro anos de prisão por cumplicidade na morte de 300 mil pessoas.

Nenhuma das condenações foi definitiva. Demjanjuk recorreu, mas acabou por morrer antes de o Supremo alemão se ter pronunciado. O mesmo tribunal está ainda a apreciar um recurso de Groening.

Para além de Reinhold Hanning, estão também a ser julgados um outro homem e uma mulher, ambos com mais de 90 anos, acusados de cumplicidade no extermínio em Auschwitz. Um outro homem que fez parte das SS em Auschwitz morreu em Abril, aos 93 anos, dias antes do início do seu julgamento.

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