Os canalizadores da guerra

Não há nada de errado com esta comédia negra e cínica sobre a guerra nos Balcãs, mas também não há nada de particularmente entusiasmante.

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Não há nada de fundamentalmente errado com o filme do espanhol Fernando León de Aranoa, que conta em tom de comédia negra os percalços de uma equipa multinacional de uma ONG em plena guerra dos Balcãs. Ao longo de 24 horas, estes “canalizadores da guerra” vão tentar ajudar a retirar um cadáver atirado para um poço, esbarrando num percurso kafkiano onde cada tentativa de solução parece criar apenas mais problemas. Mas se não há nada de fundamentalmente errado em Um Dia Perfeito, a verdade é que também não há nada de muito entusiasmante: o filme está atento às armadilhas do “turismo social liberal” ao debruçar-se sobre a ferida aberta dos Balcãs, e até brinca com elas com alguma elegância através da personagem de Mélanie Thierry (uma recém-chegada que ainda não perdeu o seu idealismo), mas isso não quer dizer que lhes consiga escapar.

Um Dia Perfeito parece uma remake mais cínica de Terra de Ninguém (2001), o filme que deu a Danis Tanovic o Óscar do melhor filme estrangeiro, ao qual León de Aranoa não tem nada de novo nem de particularmente pessoal para somar; atola-se a meio do filme nos problemas pessoais das suas personagens, joga sempre pelo seguro, dirigindo de forma certinha e profissional um bom elenco de actores conhecidos pelo seu engajamento político. É um filme bem-intencionado, bem feito, que se deixa ver sem fastio, mas que não chega nunca a sacudir a etiqueta de “filme de mensagem”.

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