Um quarto dos utilizadores em Portugal bloqueia anúncios nos sites de notícias
Estudo indica que a maioria não quer ser incomodada com publicidade e que são poucos os que pagam por jornalismo online.
Os meios de comunicação já têm dificuldades em disputar a publicidade com o Google e o Facebook, mas uma tendência crescente está a tornar a tarefa de fazer dinheiro ainda mais difícil. Em Portugal, 26% dos consumidores de notícias recorrem a um bloqueador de anúncios, e fazem-no sobretudo porque não querem ser incomodados.
Os números são do relatório anual do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, que funciona na Universidade de Oxford e procura identificar tendências de consumo. Os dados, divulgados nesta quarta-feira, foram obtidos através de inquéritos online.
Dos 26 países analisados, Portugal fica bem classificado no que diz respeito a tentar evitar a publicidade: é o oitavo onde os bloqueadores de anúncios são mais usados. A Polónia é o país onde prática é mais popular (38% dos consumidores de notícias recorrem a este tipo de software), ao passo que no fundo da tabela surge o Japão (apenas 10%). A média é de 24%, o que significa que, à semelhança do que acontece no mercado português, cerca de um em cada quatro consumidores está a fechar as portas a uma das mais tradicionais fontes de receitas do jornalismo. No caso português, o valor sobe para 42% entre os utilizadores com menos de 35 anos, que são aqueles que mais consomem notícias online.
Tipicamente, estes bloqueadores são aplicações para telemóveis e tablets, ou extensões para os browsers de computador, que podem ser instaladas gratuitamente e eliminam boa parte dos anúncios. É uma realidade que veio agravar as dores de cabeça de um sector que se debate há muito com um problema de modelo de negócio. “Os problemas de negócio para muitos editores [de sites noticiosos] pioraram com o crescimento do bloqueio de anúncios”, refere no relatório o investigador Nic Newman. “A grande maioria dos que descarregaram um bloqueador estão a usá-lo regularmente, o que sugere que uma vez descarregado, as pessoas raramente voltam atrás”.
As duas principais razões referidas pelos utilizadores portugueses para instalar um bloqueador são as mesmas dos restantes países: não querem ser incomodados (58% dos inquiridos) e estão preocupados com questões de privacidade, uma vez que alguns anúncios registam o comportamento dos consumidores (56%).
A investigação aponta também que a venda de acesso a conteúdos, uma alternativa de receitas que tem vindo a ser tentada pelos media, é um caminho estreito no mercado português: apenas 9% dos consumidores afirma ter pago por jornalismo online, o que inclui tanto assinaturas, como a compra de uma aplicação ou de um artigo isolado (ao longo do ano passado, porém, as assinaturas digitais dos títulos portugueses cresceram significativamente).
Os utilizadores portugueses surgem neste indicador abaixo do meio da tabela, com uma percentagem igual à verificada nos EUA, Irlanda e Canadá. As modalidades de pagamento são mais frequentes na Noruega, onde 27% dos utilizadores afirmaram já ter gasto dinheiro. O Reino Unido está no fundo da lista, algo que, observa o relatório, pode ser explicado com a forte tradição do serviço público da BBC e com a abundância de conteúdo em inglês.
O capítulo dedicado a Portugal (escrito pelos investigadores Gustavo Cardoso e Ana Pinto Martinho, do ISCTE) indica também que o número de jornalistas está em queda. No início de 2015, o número total de jornalistas desceu para 5621, menos 1218 do que em 2007. “O desemprego e o uso alargado de estagiários nas redacções são duas tendências emergentes para 2016”, escreveram.