Madur, fadista sem deixar de ser psicóloga: “O importante é viver intensamente o fado”

Seis anos e muitos palcos após o seu disco de estreia, Madur regressa renovada, em disco e ao vivo. Esta quinta-feira, 16 de Junho, na Casa da Música, às 22h.

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Madur DR
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Madur fotografada para a capa do seu mais recente disco CARLOS RUÃO

Na capa do disco há apenas cinco letras: Madur. Disco e cantora numa palavra só. É a síntese mais recente de um nome que começou a ser conhecido no fado como Cláudia Madur, primeiro nome artístico de Cláudia Madureira, nascida em Baião, no distrito do Porto, em 30 de Novembro de 1983. O pai imaginava-a instrumentista e ela fez-se cantora, mantendo em paralelo a profissão de psicóloga da saúde. Correu mundo, gravou dois discos, e esta quinta-feira canta na Casa da Música, no Porto, às 22h.

“O meu pai”, diz, “foi músico de uma banda filarmónica e sempre gostou que as filhas tivessem uma educação na área da música. Mas não foi ele que nos incutiu o gosto de cantar. Ele gostava que eu tocasse algum instrumento, de preferência trompete, que era o que ele tocava.” Tentou o clarinete e mais tarde o piano, mas foram tentativas frustradas. “Na minha perspectiva, eu ia para a escola de música aprender a cantar.” Até que o pai percebeu. E ele acabou por chegar ao fado. “Foi por um acaso, muito feliz, durante o meu percurso académico, numa altura em que o fado não estava muito em voga.” Na Lusíada, na tuna feminina, por ser caloira deram-lhe para as mãos o único instrumento que ainda não tinha dono, uma pandeireta. Felizmente, não se adaptou (“fui uma nódoa”), porque quando o ensaiador da tuna, António Sérgio, surgiu um dia com um fado, o Barco Negro, ninguém quis cantá-lo porque não era moda. “Ninguém queria cantar? Então canta a caloira”. A caloira cantou, e gostou, porque sempre era melhor do que tocar pandeireta. E conseguiu trazer para a tuna vários prémios em festivais: melhor música, melhor solista, tudo com o Barco Negro. Foi isso que a levou a explorar aquele registo, o do fado, que até aí lhe era estranho. Pelo canto, mas também pela poesia ligada ao fado, pela qual se foi apaixonando.

Nos palcos do mundo

“Não se aprende a cantar fado”, diz Madur, “mas aprende-se a estar no fado.” Saber distinguir, por exemplo, fado tradicional de fado canção, foi uma aprendizagem que teve de fazer “nas casas de fado, com pessoas que já tocavam há muitos anos.” Isto no Porto, onde foi fazendo o seu caminho “e as coisas foram surgindo espontaneamente.” Ouviu muitos discos, muitos músicos e fadistas. “O importante é viver intensamente o fado.” Depois da sua estreia profissional, em 2006, correu o país e gravou o primeiro disco, Fado Sem Tempo (2009), que lhe abriu as portas à internacionalização: França, Bélgica, Espanha, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Dinamarca, EUA, Chipre, Turquia.

Em Abril deste ano lançou o segundo disco, Madur, com Ângelo Freire e Guilherme Banza na guitarra, Diogo Clemente na viola de fado, António Quintino no contrabaixo, Valter Rolo no piano e André Silva na bateria. “O primeiro, gravei-o só com fados tradicionais em poemas novos. Nessa altura, mal conhecia compositores. Hoje, já tive o privilégio de contar com autores como o Tiago Torres de Silva ou o Fernando Gomes dos Santos, já o sinto mais como meu.” Entre os doze temas do disco (Quem foi, de Cátia Oliveira, é um dos “ameaçam” tornar-se virais e Vem de expresso, da mesma autora, já tem vídeo oficial publicado no Youtube) há um escrito por ela, Sou saudades, sou fadista, na música do Fado Rosita de Joaquim Campos. “Vou escrevendo. Tenho outros, mas achei que bastava um tema meu, perante as maravilhosas letras que me tinham dado, sobejamente melhores que as minhas.” A simplificação do nome veio-lhe do dia-a-dia: nas casas de fado já lhe chamam só Madur, ninguém diz “Cláudia”.

Na psicologia, porém, continua a ser Cláudia Madureira. À semelhança do que fez Katia Guerreiro com a medicina, Madur continua a exercer esta profissão em paralelo com o fado. “O mundo da música é muito bonito mas também é muito incerto. Gosto muito da música, sinto-me inteiramente realizada a cantar fado, mas também gosto muito do lado da psicologia. São caminhos que se complementam.”

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