No final de contas, é só um mês no Verão das nossas vidas

Vivo no mundo da lua, o meu pai sempre se queixou disso, e aos 18 anos sinto que estou cada vez mais perto de me perder dentro da nuvem de sonhos que flutua através do meu respirar como um hesitante balão desesperado por encontrar forças antes de se despenhar sobre a ondulação selvagem do mar. 

Sou obcecado por tudo o que desperte um bárbaro batimento no meu coração nómada: trincar azedas, um abraço caloroso, um beijo febril. Talvez seja por isso que no 10.º ano segui Humanidades, pois muitas das emoções que incansavelmente procurara até então, encontrava-as várias vezes em Mendes Pinto, Camilo ou mesmo em antigos e poeirentos livros que descreviam as grandes batalhas da História de Portugal (cheguei a encenar, com Playmobils, a batalha de Aljubarrota).

Humanidades deu-me a desculpa perfeita para passar tardes a devorar as grandes obras que esboçam o retrato heróico deste pequeno mas resiliente país. 

Algures no meu 11.º ano descobri a impaciente e impetuosa narrativa jornalística de Hunter S. Thompson, tal como a elegância do discurso de Walter Cronkite, e percebi que era aquilo que queria fazer o resto da minha vida, ser jornalista, procurar a insaciável verdade. Sentir o desenrolar do mundo na pele. De certa forma, foi nesse momento que o meu vasto e caótico horizonte se desvendou e me mostrou um caminho que, embora cansativo e muitas vezes penoso, é também indescritivelmente gratificante.

Um grande passo neste longo e poeirento trilho é esta época de exames que se avizinha e que requer de nós, alunos, um colossal espírito de sacrifício, uma paciência e uma determinação descomunal para resumir mais um ou dois pontos e fazer noitadas que só acabam quando os olhos já ardem tanto que qualquer caderno ou manual se parece mais com uma almofada do que com um livro.

Mas, no final de contas, é só um mês no Verão das nossas vidas. Depois tudo saberá melhor. 

Aluno do 12.º ano, Escola Secundária Rainha Dona Amélia, Lisboa

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