Empate a quatro que prenuncia a continuação do impasse político em Espanha

Todos os líderes venceram segundo os seus partidos. Mas Sánchez terá perdido uma oportunidade a favor de Rajoy e de Iglesias.

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Rajoy, Sánchez, Rivera e Iglesias Juan Medina/Reuters

O debate televisivo de segunda-feira em Espanha deixou uma imagem de “empate a quatro”, dizem analistas. Foi um confronto inédito pois, desta vez, ao contrário de 2015, Mariano Rajoy, chefe do governo e líder do Partido Popular (PP), esteve presente, enfrentando Pedro Sánchez, do PSOE, e os líderes dos “emergentes”, Pablo Iglesias, do Podenos, e Albert Rivera, do Cidadãos. O longo debate, de duas horas e meia, teve duas partes. Na primeira, “todos contra Rajoy”, na segunda “todos contra Iglesias”, resumiu o El País. Não foi tão simples.

Sánchez e Iglesias tentaram liderar a crítica ao governo, mas foi Rivera quem mais severamente atacou Rajoy, a propósito da corrupção, a ponto do presidente do governo o acusar de “inquisidor”. Foi também Rivera quem mais acintosamente fustigou o Podemos, a propósito das suas conexões venezuelas e do populismo. Rajoy tentou manter uma postura de político experiente, defendeu o balanço económico do seu governo, irritou-se com Rivera, minimizou Sánchez e foi frio perante Iglesias, que no entanto deu a entender ser o seu verdadeiro rival.

Espetou uma farpa no PSOE, frisando que ele está em terceiro nas sondagens “e creio que vai ficar aí”. Aludiu de passagem a uma “grande coligação (...), como acontece nos grandes países europeus com forças moderadas e sensatas”.

Polarização e sorpasso

PP e Podemos já conseguiram polarizar as eleições. Têm ambos interesse nisso, de forma a captarem “o voto útil”: Rajoy contra a ameaça do “extremismo” do Podemos, este contra a política de austeridade. Mas Iglesias tem na agenda uma outra prioridade: o sorpasso, a ultrapassagem do PSOE em votos e, se possível em mandatos, pela frente Unidos Podemos (UP, aliança entre Podemos e a Esquerda Unida). Invoca as sondagens para se arvorar em líder da oposição.

No debate a sua estratégia foi evitar erros e dar uma imagem de moderação. Sánchez acusou-o de ter bloqueado a sua investidura em Março e “blindado” Rajoy. Iglesias evitou sempre o confronto com o líder socialista, sussurando-lhe: “Pedro não te enganes, eu não sou o adversário.” Não foi o Iglesias das tertúlias televisivas e dos comícios a que os espanhóis estão habituados, sublinham os jornalistas.

O líder que mais necessidade tinha de vencer o debate era Sánchez, a quem era exigido mostrar-se como alternativa a Rajoy e anular a polarização PP-Podemos. Limitou-se a ser duro. Foi Iglesias quem definiu o novo terreno que marginaliza o PSOE: “Só há duas opções. Um governo com o Partido Popular e um em que estejam o Unidos Podemos e o PSOE.” No fim do debate, à excepção dos socialistas, ninguém ousava insinuar uma vitória de Sánchez.

“Os debates ganham-se quando os projectores se apagam. As máquinas mediáticas lançam-se a colonizar o debate sobre o debate. Todas deram como ganhador o seu candidato”, escrevia ontem o politólogo Jorge Galindo. Acrescentava: “O efeito predominante dos debates é reforçar opiniões prévias através dos óculos partidários de cada um. Assim, o resultado é um empate a quatro, uma guerra de trincheiras: pouco mudou, nada se aprendeu.”

O jornalista José Antonio Zarzalejos exprime, no El Confidencial, uma opinião pessimista: “A possibilidade de as urnas repetirem [o resultado] do 20 de Dezembro torna-se cada vez mais verosímil, e ainda que os quatro tenha dito não desejar novas eleições, trata-se de uma hipótese, que por mais disparatada que pareça, não é um delírio.”

 

 

 

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