A Feira do Livro de Lisboa continua a remar contra as quebras do mercado

Mais visitantes e mais vendas, a APEL diz que resultados são muito positivos e que ultrapassam a edição anterior.

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Feira do Livro de Lisboa Nuno Ferreira Santos

A organização da Feira do Livro de Lisboa acredita que o número de visitantes terá sido superior ao do ano passado, apesar de ainda não terem números oficiais. Para termos uma comparação, um mau dia nesta edição era um bom dia da anterior”, diz Bruno Pires Pacheco, secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), quando lhe pedimos para fazer um balanço dos 19 dias que durou o evento, que terminou esta segunda-feira e proporcionou o encontro entre autores, editores e leitores no Parque Eduardo VII, em Lisboa.

Com o dia da abertura, a 26 de Maio, entre os de maior adesão e com a presença do Presidente da República, a feira literária recebeu muitos visitantes durante os dias da semana, a sua maior parte a partir do meio da tarde e, especialmente, durante a Hora H, a última hora da feira em que os leitores tiveram a oportunidade de comprar livros editados há mais de 18 meses, com um mínimo de 50% de desconto. “A Hora H já existe há cinco anos e funciona, porque faz com que a feira ganhe o período da noite”, afirma Bruno Pires Pacheco. No entanto, os fins-de-semana registaram a maior enchente, com excepção do último, coincidente com o festival Nos Primavera Sound e com as festas dos Santos Populares em Lisboa.

Entre os editores, é unânime que esta Feira do Livro correu melhor do que a do ano anterior, com os números de vendas a subir ligeiramente e os grandes grupos editoriais a registarem um crescimento. Na Porto Editora, “as vendas estiveram 10% acima do ano passado”, de acordo com Paulo Rebelo Gonçalves, do gabinete de comunicação do grupo. Entre os títulos mais vendidos, encontram-se Um Cão Chamado Leal, de Luis Sepúlveda, que teve lançamento na feira e superou os 500 exemplares, os livros de José Eduardo Agualusa e de José Luís Peixoto e os dois renovados volumes da colecção Vampiro.

No Grupo Leya, as vendas também ultrapassaram a edição passada. “Já é o segundo ano consecutivo em que isso acontece, o que é muito bom”, afirma o director de comunicação José Menezes. Uma Aventura na Madeira, de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães, O Coro dos Defuntos, de António Tavares (Prémio Leya 2015), e Assim Nasceu Portugal: A Vitória do Imperador, de Domingos Amaral, foram alguns dos livros mais procurados.

A editora Bárbara Bulhosa, da Tinta-da-China, ressalva que “este continua a ser um evento muito importante para quem gosta de livros” e afirma que, independentemente das vendas, “o contacto entre editores e leitores é muito benéfico”. O livro mais vendido na editora foi a banda desenhada Os Vampiros, da autoria de Filipe Melo e Juan Cavia, com cerca de 900 exemplares.

A Gradiva, casa do autor português que mais vende neste momento em Portugal, José Rodrigues dos Santos, também obteve resultados satisfatórios. Segundo Helena Rafael, do departamento de comunicação, os livros deste autor são os mais vendidos na editora, nomeadamente o recém-lançado O Pavilhão Púrpura e As Flores de Lótus. Na colecção de ciência da editora, destacaram-se Ciência Cosmológica, de Jorge Dias de Deus, e A Teoria de Tudo, de Stephen Hawking. O infanto-juvenil também é uma aposta da editora, com boas vendas do livro A Bruxa Mimi e a Casa Assombrada, de Valerie Thomas.

Também para a Relógio D'Água “as vendas correram claramente melhor que em 2015”, segundo o editor Francisco Vale, e a autora mais procurada foi Elena Ferrante, nomeadamente a sua tetralogia napolitana e o livro Crónicas do Mal de Amor, seguido de Todos os Contos, de Clarice Lispector. “É um balanço positivo, apesar do peso excessivo que foi dado na feira à gastronomia (Portugal já parece demasiado um país de chefs e futebolistas para que a Feira do Livro de Lisboa confirme essa imagem)”, acrescenta o editor.

Já a Editorial Presença destaca a maior dinâmica conseguida pela organização. Cada editora procurou acompanhar o ritmo da maior festa do livro ao ar livre, diz Inês Mourão, do departamento de comunicação. A Presença privilegiou o público infantil na sua praça e alguns dos livros mais vendidos foram Curso Intensivo para Sobreviveres à Escola, de Miguel Luz, e Conquistadores, Como Portugal Criou o Primeiro Império Global, de Roger Crowley.

A grande surpresa da Feira do Livro de Lisboa foi o título mais vendido da editora Guerra e Paz, Mein Kampf, de Adolf Hitler. Disponibilizado numa trilogia, da qual fazem parte Manifesto Comunista, de Friedrich Engels e Karl Marx, e O Livro Vermelho, de Mao Tsetung, o livro foi lançado na íntegra, em Portugal, pela primeira vez este ano.“São livros esteticamente muito apelativos, quase livros-objecto, a vermelho e negro, com prefácios críticos”, conta Manuel Fonseca. O editor refere que a Guerra e Paz teve o melhor dos seis anos em que esteve presente na feira, com um “crescimento de 40% de vendas”.

Mais do que limitar-se à compra e venda de livros, a Feira do Livro tem apostado nas actividades culturais como atractivo de público, promovendo lançamentos, debates e sessões de autógrafos. Terão passado por esta edição mais de mil autores e aconteceram 450 iniciativas. “A nível comercial, igualar o ano anterior já seria bom, por isso superá-lo é muito positivo”, reconhece o secretário-geral da APEL Bruno Pires Pacheco. Em Portugal, o mercado dos livros tem sofrido uma queda de vendas na ordem dos 20 a 30% nos últimos anos, o que demonstra a particular importância de um evento como a Feira do Livro de Lisboa, que “há cinco anos rema em contra corrente”.

Uma das grandes novidades desta edição foi a aplicação criada para Android e iOS que permitiu aos leitores navegar pelas editoras presentes e saber os eventos que estavam a decorrer no momento. Bruno Pires Pacheco destaca esta interactividade como uma mais-valia, pois “as pessoas acharam que valia a pena pegar no smartphone e ver o que estava a acontecer”.

A Feira do Livro de Lisboa contou, nesta 86.ª edição, com 600 editoras e chancelas participantes e um número recorde de 277 pavilhões e, recebeu, ainda, a visita de editores estrangeiros, numa iniciativa que pretendia que comprassem, na capital, os direitos de livros de autores nacionais. Começam, agora, os 11 meses de espera pelo próximo encontro entre autores e leitores no Parque Eduardo VII, com mais livros e actividades para toda a família.

Texto editado por Isabel Coutinho

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