Os banhos de 2016

Entrei no mar como quem tem uma semana para voltar à terra.

Como são então os banhos de mar de 2016? Demoraram mas são bons. Apesar de todos os atentados oceânicos que insistimos fazer, com uma intensidade cada vez mais demente com cada ano que passa, o Atlântico, na costa portuguesa, continua limpo e bom e cheio de vida.

Na Praia das Maçãs o areal nunca foi tão grande. Quando está maré vaza passeia-se sobre areia que durante décadas foi o fundo do mar. É areia velhíssima mas nunca foi pisada; nunca esteve aberta à luz e ao calor do sal.

As rochas que não foram tapadas pela areia que as ondas este ano trouxeram estão cheias de poças de mar onde ficaram presos caranguejos e cabozes. Há anémonas, lapas e mexilhões. É uma aflição de seres vivos que só um coração de pedra pode considerar um micro-banquete: os cabozes fritos colectivamente e as anémonas fritas, uma a uma, com (ou, ainda melhor, sem) o mais delicado dos polmes.

Entrei no mar como quem tem uma semana para voltar à terra onde nasceu e foi feliz depois de uma vida inteira passada onde nunca quis estar.

Estas transições – entre os 9 meses frios e secos para os 3 meses quentes e molhados – são a razão de ser de cada ano que vivemos.

O mar, que não é mar nenhum mas antes um oceano – o nosso oceano – abraça-nos como se tivéssemos fugido dele durante os 9 meses em que realmente fugimos dele.

Abraça-nos como o regresso ao perigo que é. Perco o pé e sou levado pela corrente até ao novo agueiro que me impele rapidamente para muito, muito longe do areal.

Chegámos.

Sugerir correcção
Comentar