No Peru ganhou (por muito pouco) o anti-fujimorismo

Peruanos têm por fim um Presidente, mas a filha do ex-ditador não assume derrota. E prepara-se para fazer oposição.

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Pedro Pablo Kuczynski venceu as presidenciais no Peru por menos de 40 mil votos Janine Costa/Reuters
Os apoiantes de PKK puderam, por fim, festejar nas ruas de Lima
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Os apoiantes de PKK puderam, por fim, festejar nas ruas de Lima Janine Costa/Reuters

Foi mesmo por pouco, mas foi. Ao contrário do que as sondagens anteciparam durante meses, Pedro Pablo Kuczynski venceu as presidenciais no Peru. O anúncio foi feito pela comissão eleitoral depois de quatro dias de contagens e recontagens.

O veterano político de centro-direita e ex-banqueiro de Wall Street derrotou por menos de 40 mil votos Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, que governou o país entre 1990 e 2000 e cumpre agora prisão por crimes contra a humanidade.

“Obrigado Peru! Agora temos de trabalhar em conjunto pelo futuro do nosso país”, comentou PPK (como é conhecido Kuczynski), 77 anos, na sua conta do Twitter logo depois do anúncio. O líder do partido Peruanos Pela Mudança venceu com 50,12% face aos 49,88% da chefe da Força Popular e recebe um país dividido, isto apesar de não haver grandes diferenças ideológicas entre os dois partidos.

PPK tentou fazer da eleição uma escolha entre “a ditadura e a democracia”, defendendo que a vitória de Keiko seria o regresso do fujimorismo – a filha do ex-ditador quis afastar-se dos abusos de direitos humanos do pai, mas manteve alguns dos seus colaboradores e usou o mesmo discurso simplista contra o crime que antes era usado contra o terrorismo.

A ameaça do regresso a uma época marcada por crimes de Estado ajudou PPK a reunir os apoios da esquerda derrotada na primeira volta das presidenciais, em Abril, ainda que em termos económicos apresente propostas muito idênticas às da Força Popular. O partido de Fujimori assegurou logo em Abril o controlo do Congresso, onde conta com 73 membros preparados para esmagar as intenções dos 18 eleitos pela formação do novo Presidente.

Mesmo perdendo, Keiko provou que o fujimorismo não está morto. “PPK está na complicada posição do equilibrista”, comenta a AFP o analista político Carlos Basombrio. “Não ganhou pelo seu carisma nem graças ao seu programa, mas por representar a opção do movimento anti-fujimorismo, o que é muito mais poderoso do que a sua própria candidatura.”

Apesar da curta diferença de votos já só 0,2% dos boletins são objecto de recursos, pelo que o chefe de Estado cessante, Ollanta Humala, não teve dúvidas em felicitar Kuczynski, seguindo-se os presidentes do Chile, Michele Bachelet, e da Colômbia, Juan Manuel Santos. Só falta mesmo a rival.

“O processo eleitoral ainda não terminou. Temos o direito [de esperar por] que todos os votos do povo peruano sejam contabilizados”, afirmou por seu turno Pedro Spadaro, porta-voz do partido de Fujimori, que está em silêncio desdes as eleições de domingo. “A última palavra é do Tribunal Nacional Eleitoral.”

 

 

 

 

 

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