Hooliganismo no Euro: uma ameaça a juntar ao terrorismo

Aumento da violência nos últimos meses em competições de clubes pode ter continuação no Euro.

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O jogo entre Inglaterra e a Rússia estará sob a mira das autoridades MARKO DJURICA/REUTERS

Não é só o terrorismo que está a preocupar as autoridades francesas no Euro 2016. O hooliganismo é também uma ameaça, que parece estar a ressurgir em força. De facto, os últimos dois meses ficaram marcados por um aumento de violência um pouco por toda a Europa, no que ao futebol diz respeito. A final da Taça de França, entre o PSG e o Marselha, foi um momento quente, com adeptos a entrarem com petardos, apesar de uma rigorosa revista, e outros a tentarem invadir o campo.

Na Alemanha, 530 adeptos foram detidos aquando do derby do estado de Hesse entre o Frankfurt e o Darmstadt, a contar para a 32.ª jornada da Bundesliga. Violentos confrontos marcaram o final do jogo nas ruas de Darmstadt e quatro polícias ficaram feridos. Na Suíça, adeptos do Zurique tentaram invadir o túnel de acesso aos balneários para tentarem agredir os jogadores da própria equipa, em protesto contra a descida de divisão do clube. Fora do estádio houve confrontos com a polícia.

Na Escócia, o Hibernian ganhou a Taça ao Rangers. Assim que soou o apito final em Hampden Park, Glasgow, centenas de adeptos invadiram o relvado para celebrar um feito que já não acontecia há 114 anos. Mas, enquanto a maioria celebrava, outros correram em direcção aos jogadores e staff do Rangers e agrediram-nos. Onze pessoas foram presas.

Não foi uma época fácil também em termos de Liga Europa. Houve autênticas batalhas campais nas ruas, à margem dos jogos Nápoles-Légia de Varsóvia, Athletic Bilbau-Marselha e Ajax-Fenerbahçe. Mesmo a final entre o Liverpool e o Sevilha ficou marcada por confrontos entre adeptos no interior do St Jakob-Park, em Basileia, antes do apito inicial.

É neste cenário que se chega ao Euro 2016. Dos jogos da primeira fase, alguns são de alto risco. Vamos ver alguns casos. No dia 11 de Junho, em Marselha, defrontam-se a Inglaterra e a Rússia. Além de possíveis confrontos entre adeptos das duas selecções, há também um histórico de conflitos entre os ingleses e a população árabe de Marselha, que se envolveram em confrontos à margem do Inglaterra-Tunísia do Mundial de 1998.

Aliás, já na madrugada desta sexta-feira verificaram-se confrontos com adeptos ingleses em Marselha, o que resultou em duas detenções.

No dia seguinte (12 de Junho), jogam a Turquia e a Croácia, em Paris. Um jogo a ter em atenção por parte da polícia, desde logo por causa dos violentos grupos croatas afectos a clubes, como o Bad Blue Boys, do Dínamo Zagreb, ou a Torcida, do Hadjuk Split. Depois, de recordar que o jogo é no Parque dos Príncipes, casa do Paris Saint-Germain. Em 2012, na véspera de um PSG – Dínamo de Zagreb para a Liga dos Campeões, houve confrontos na zona da Bastilha entre hooligans do PSG e o grupo já referido do Bad Blue Boys. Embora não estejam envolvidos clubes, nada garante que não possa acontecer outra vez. Os turcos também não são, propriamente, adeptos "fáceis". São conhecidos os problemas em jogos daquele campeonato, particularmente nos derbies de Instambul, cidade de onde são os três principais clubes: Besiktas, Fenerbahçe e Galatasaray.

No dia 16 de Junho, em Lens, jogam Inglaterra e País de Gales. Entre os grupos de hooligans mais activos no Reino Unido estão o Headhunters, afectos ao Chelsea, e os galeses Soul Crew, ligados ao Cardiff. O cenário é o mesmo do jogo anterior. Não estão envolvidos clubes mas os grupos podem viajar para França para seguir as respectivas selecções. Também no dia 16, defrontam-se Alemanha e Polónia, em Paris. Um jogo perigoso devido ao ressurgimento do hooliganismo na Alemanha, principalmente nas regiões de Dresden e Leipzig e aos violentos grupos de hooligans polacos, afectos ao Lech Poznan, GKS Katowice, Légia de Varsóvia e Wisla Cracóvia. As autoridades estão avisadas para encontros pré-combinados em áreas desertas, já que é esse o histórico da cultura hooligan nos dois países.

O Euro 2016 é também a primeira grande competição internacional de futebol após o desencadear do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. No caso dos ucranianos, o hooliganismo é uma constante a nível de clubes, com grupos afectos ao Dínamo Kiev, Shakhtar Donestk, Metalist e Dnipro. Estes grupos não costumam seguir a selecção mas as autoridades têm a indicação que desta vez pode ser diferente, com a possibilidade de confrontos com russos a servir de motivação para a viagem até França. As duas selecções até se podem encontrar logo nos oitavos-de-final.

O Euro 2016 vai ter medidas excepcionais de segurança no que toca aos hooligans, com vigilância apertada nas fronteiras, nas estações de comboio e nos aeroportos. A polícia de cada país também terá um papel importante. “Todos aqueles que estão sujeitos a uma ordem de proibição de frequentar estádios serão impedidos de deixar os seus países pela polícia local”, explica Antoine Boutonnet, responsável pela divisão de anti hooliganismo da polícia francesa, em declarações à Associated Press.

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