A expectativa de Jade foi prolongada apenas por umas horas

Selecção nacional foi recebida com entusiasmo em Marcoussis, que promete um "ambiente único" durante o torneio.

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A selecção portuguesa à partida para França Patrícia de Melo Moreira/AFP

Quando “Eusébio”, o Airbus da TAP que transportou a comitiva portuguesa para Paris, descolou do Aeroporto Humberto Delgado, Pedro Vicente já se encontrava na estrada a caminho de Marcoussis. Emigrante português em França desde o final da década de 80, este beirão de Castanheira de Pêra, de 52 anos, prometera à filha que a levaria a ver Cristiano Ronaldo e como não podia correr o risco de falhar a chegada do capitão da selecção nacional, partiu de Compiègne, a Norte de Paris, pouco depois das 8h, precavendo qualquer atraso motivado pelo sempre caótico trânsito matinal nas estradas em redor da capital francesa. A filha Jade, de 15 anos, faltou às aulas. Pedro meteu um dia de férias no trabalho: “Faço isto por ela. Qualquer pai deve fazer sempre tudo para ver os olhos de um filho brilhar.”

Jade já nasceu em França, mas a camisola vermelha com o símbolo de Portugal e o boné com a sigla CR7 tornavam óbvia qual a paixão da jovem de cabelos e olhos escuros. “Fiz um bom trabalho e orgulho-me disso: sempre fiz questão que ela se sentisse portuguesa. Ter nascido noutro país é apenas um detalhe”, revela Pedro, com um sorriso. A fixação da filha por Cristiano Ronaldo faz, no entanto, este empregado fabril mudar o discurso e franzir o sobrolho. “Não gosto muito, confesso. Acho excessivo. Mas que podemos fazer?” Jade, que até aí tentara sempre fugir à conversa, coloca de lado a timidez. Encolhe os ombros em sinal de reprovação pelo que o pai acabara de dizer e levanta o tom de voz para o confrontar: “Tu na minha idade não tinhas ídolos?” Com o clima familiar claramente tenso, Pedro Vicente remata o assunto: “Aqui não pode haver ídolos, os 23 jogadores da selecção são todos importantes.”

A irritação de Jade durou pouco. Às 13h32, 26 minutos depois de o autocarro com a selecção nacional abandonar o terminal Ouest do aeroporto de Orly, o som de um helicóptero da polícia anunciou a chegada da comitiva portuguesa ao Centre National de Rugby, o quartel-general de Portugal durante o Euro. No entanto, o desejo de Jade acabou adiado: cumprindo à risca as exigentes medidas de segurança decretadas pela organização francesa, o autocarro passou pelos cerca de meio milhar de adeptos que aguardavam Portugal na Rue Jean de Montaigu sem parar, entrando de imediato no centro de estágio. Jogadores, nem vê-los.

Se para Jade as restritas normas de segurança significaram apenas um momentâneo revés -  Pedro Vicente e a filha foram dois dos privilegiados que conseguiram bilhetes para assistir ao treino aberto ao público que a selecção realizou ao final da tarde -, para Morgan Skhiri a deslocação a Marcoussis terminou com uma mão-cheia de nada. Residente na pitoresca vila a Sul de Paris, este francês confessa que prefere o râguebi ao futebol, mas não esconde admiração por Cristiano Ronaldo. “Todas as grandes equipas precisam de um grande capitão e Ronaldo é um exemplo pela forma como se entrega. Daria um bom jogador de râguebi, ao contrário de 99% dos futebolistas que têm muito pouco espírito de sacrifício”, afirma. 

Sem bilhete para o treino, Morgan diz que não vai prestar muita atenção aos jogos do Europeu, mas garante que Portugal parte em vantagem sobre a concorrência: “O ambiente de Marcoussis é único. Não tem nada a ver com o de Clairefontaine [localidade onde se encontra o centro de estádio da selecção francesa de futebol]. São outros valores. O ambiente râguebista vai inspirar Portugal.”

 

 

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